UM SCHINDLER BRASILEIRO




Entre tantos heróis desconhecidos de nossa história, mas merecedores de todas as honrarias, está Luiz Martins de Souza Dantas (1876-1954), oriundo de uma das mais ilustres famílias do Império.
Depois de seguir uma apreciável carreira política por vários anos, dentro e fora do Brasil, Dantas foi nomeado embaixador na França. Apreciador das artes, é descrito como uma alma nobre e generosa.
Anfitrião impecável de brasileiros em Paris, era também um grande filantropo, disposto a ajudar todos os que passavam por seu caminho.
Diplomata experiente e perspicaz, cedo compreendeu a catástrofe que estava para se abater sobre o mundo, com a ascensão do nazismo. Antevia uma época de trevas e de barbáries.
Quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, o Itamaraty já havia baixado uma série de leis que dificultavam a entrada de pessoas de raça semítica no Brasil.
Souza Dantas, apesar de tais proibições, decidiu seguir sua consciência, obtendo passaportes e assinando vistos pessoalmente. Conseguiu, assim, introduzir no país cerca de 800 pessoas - sendo 425 de origem judaica, entre elas o futuro ator e diretor teatral Ziembinski.
Em novembro de 1940, Dantas foi advertido pelo Itamaraty por conta de tais concessões. Ele, entretanto, continuou com seu trabalho. 
Em 1942, enfrentou a Gestapo. Ele e os demais membros da delegação brasileira na França foram confinados, em condições precárias, por 14 meses.
Mesmo após a guerra, ele foi relegado ao ostracismo diplomático pelo governo brasileiro, por sua ousadia. Somente depois de dezembro de 1945, ele seria nomeado para chefiar a delegação brasileira na ONU. Alguns anos mais tarde, morreria pobre e esquecido num humilde quarto de hotel, em Paris.
Em 2003, quase meio século após a morte de Luiz Dantas, seu nome foi inscrito no Museu do Holocausto, em Jerusalém, como "Justo entre as nações", por seu empenho na emissão de centenas de vistos, durante a fase negra da repressão nazista na Europa, pondo em risco a própria vida e carreira, desafiando poderosos dentro e fora do Brasil. 
Luiz Martins de Souza Dantas, postumamente condecorado, merece brilhar na galeria universal dos heróis do século XX.

Texto de Fabio Koifman - adaptação de Marcos Aguiar. 

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