AMIGOS ATÉ O FIM




Havia uma macieira que amava um menino.
Todos os dias o menino vinha brincar com a árvore: subia pelo seu tronco, balançava-se nos seus ramos, comia suas maçãs, corria em redor dela e, quando cansava, dormia à sua sombra.
E a árvore era feliz.
Mas o tempo passou e o menino cresceu e já não ficava tanto tempo com a árvore. E a coitada acabava ficando sozinha a maior parte do tempo.
Um dia o jovem veio e a árvore lhe disse:
- Anda, rapaz. Sobe em meu tronco, balança-te em meus ramos, coma meus frutos e brinque à minha sombra.
- Já sou muito crescido pra brincar. Agora quero me divertir mundo afora. Quero dinheiro. Podes dar-me dinheiro?
- Bem, eu não tenho dinheiro; apenas maçãs. Leve-as para vendê-las na cidade. Então terás dinheiro.
O moço subiu, colheu as maçãs e as levou.
E a árvore ficou feliz por ajudar.
Mas o jovem passou um tempão sem voltar.
E a árvore ficou triste outra vez.
Anos depois, o jovem, agora homem feito, regressou e a árvore, eufórica, disse:
- Anda, amigo. Suba, balança-te nos meus ramos.
- Não tenho mais tempo para subir em árvores. Quero casar e ter filhos. Para isso preciso de uma casa. Podes dar-me uma casa?
- Bem, eu não tenho casa. A floresta é o meu lar. Mas corta os meus ramos e com eles constrói a tua casa. 
O homem então cortou os ramos e os levou para construir a casa.
E a árvore ficou feliz.
No entanto se passou outro longo período sem que o homem retornasse e a árvore se entristeceu. Quando finalmente voltou, a árvore ficou tão feliz!
- Anda, amigo. Venha brincar comigo.
- Não tenho mais idade pra brincar. Quero um barco que me leve pra bem longe daqui. Podes dar-me um barco?
- Corte o meu tronco e faça um barco. Assim poderás viajar com ele.
O homem cortou o tronco, recolheu a madeira, fez um barco e partiu.
E a árvore ficou feliz, mas não por muito tempo, pois o homem demorou muito pra voltar.
Décadas anos depois, um ancião chegou vagarosamente àquele lugar.
- Oh, velho amigo! - suspirou a árvore - Nada mais me resta para te dar. Já não produzo mais maçãs.
- Tudo bem; meus dentes estão fracos demais para mastigar teus frutos. 
- Já não tenho ramos...
- Não importa; também já não tenho idade para balançar-me em ramos.
- Não tenho tronco pra você subir...
- Estou muito cansado pra isso!
- Me perdoe. Gostaria tanto de ter algo pra te oferecer… mas nada me resta. Agora sou apenas um toco velho.
- Já não preciso de muita coisa - concluiu o velho - Apenas um lugar sossegado onde eu possa sentar e descansar. 
- Pois bem - respondeu a árvore - Um velho toco é ótimo pra isso. Venha; sente-se e descanse.
E o velhinho assim o fez.
E a árvore ficou feliz.
Os verdadeiros amigos são amigos até o fim.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UMA FILA QUE VALEU A PENA

A VERDADEIRA RIQUEZA

OS PREGOS