OUVIDOS DA ALMA





Era inverno, na Escócia.
Roberto era ferreiro e sua esposa, dedicada mãe de casa, cuidava dos quatro filhos.
O caçula, deficiente auditivo, era o que lhe dava maior preocupação. Ela adoecera durante a gravidez, o que resultou na deficiência de André. Ele, entretanto, era muito inteligente e depressa (aos cinco anos) aprendeu a ler e escrever.
Para manter a comunicação com a família, André se servia de gestos e também papel e caneta para expressar aquilo que não conseguia gesticular.
Em dezembro, perto do Natal, Roberto foi prestar serviço em uma fazenda distante, deixando a mulher em casa com os filhos. 
Pouco depois surgiu uma tempestade que durou dias, fazendo zerar o estoque de lenha para o fogão.
Estavam todos contentes pela boa colheita do verão; tinham comida o bastante para atravessar o inverno inteiro. Mas precisavam de lenha.
Elizabeth reuniu os filhos, agasalharam-se bem e, aproveitando a estiada, saíram para apanhar lenha.
Os pequenos Mary, Alice e André corriam entre as árvores, felizes por estarem fora de casa. A mãe e o filho mais velho, adolescente, partiam troncos em pedaços pequenos, amontoando-os sobre o trenó.
Repentinamente, o tempo voltou a piorar, com muito vento e neve. Elizabeth reuniu os filhos, mas André havia sumido. Mesmo que o chamasse gritando, seria inútil, devido à surdez dele.
Precisaram voltar logo pra casa, a fim de não congelarem. Seguiram-se horas lentas e angustiosas, todos preocupados com André. Assim que a tempestade acalmou, sua mãe se aprontou para ir procurá-lo.
Foi quando ouviram alguém bater à porta.
Era André, sorridente!
Como conseguira acertar o caminho em meio ao mau tempo? - indagavam-se todos.
Com gestos e anotações, explicou que, assim que a tempestade começou, abrigou-se atrás de um tronco. De repente "ouviu" alguém chamando seu nome. Dirigindo-se ao local de onde parecia ter vindo a voz, não encontrou ninguém. 
Então ouviu a mesma voz: "André, venha para casa!"
A voz se repetiu sequencialmente e ele a seguiu, até avistar sua casa; assim pôde retornar em segurança. 
Sua mãe caiu de joelhos, abraçou seu menino e deu graças aos Céus pela voz que o guiou e salvou. Uma voz que não vinha do mundo exterior, mas que se fez ouvir na alma do pequeno André. 

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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