AS GUERRAS DOS HOMENS





Havia um pássaro chamado Kansisi que morava nos bananais ao redor de uma aldeia. Era branco, tinha asas negras e sabia muita coisa sobre o comportamento dos homens.
Um dia recebeu a visita de um amigo distante, o pássaro Monkonia, que chegou já perguntando:
- Por que é que os homens fazem a guerra?
Kansisi deu uma risadinha. O amigo prosseguiu:
- Os homens se dizem inteligentes e racionais; como é que não conseguem, então, viver em harmonia? Não há ninguém que cometa tanta asneira quanto eles!
Kansisi explicou:
- Eles agem assim por diversos motivos. A prepotência, inveja e vingança os levam a pegar em armas uns contra os outros. Brigam até por coisas banais, sem pensar nas consequências. Vem comigo, vou te mostrar um exemplo concreto.
Sobrevoaram uma aldeia vizinha e pousaram numa folha de bananeira. Era meio-dia e a aldeia parecia deserta. Apenas uma criancinha brincando na clareira, junto a alguns potes de barro ainda frescos, secando ao sol antes de serem cozidos no forno.
- Agora observe - disse Kansisi, pousando num dos potes. 
Vendo o pássaro, a criança pegou um pedaço de pau e correu para espantá-lo, mas a ave escapou a tempo. A criança acabou esbarrando no pote, deformando-o.
Ao ouvir o barulho, a dona dos potes saiu e deu duas palmadas na criança. Sua mãe veio logo acudi-la e fustigou a mulher com uma vara, que gritou por socorro. O marido dela veio correndo com uma faca e a mãe da criança fugiu, fazendo o maior escândalo.
Com a barulheira, mais homens e mulheres saíram de casa aos berros e brandindo porretes, machados e facões. Por todos os lados, choviam insultos e ameaças. 
Em pouco tempo, o povoado inteiro estava em pé de guerra. E o pior é que ninguém fazia ideia do motivo da confusão. Ao final de tudo, mortos, feridos e danos materiais.
- Viu? - disse Kansisi ao amigo - É assim que nascem as guerras entre os homens. 

Fábula zairense - adaptação de Marcos Aguiar. 

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