A GRANDE DÁDIVA





Em um posto de saúde, médicos voluntários se esforçavam para atender aos muitos necessitados.
Numa das salas, uma médica leu a próxima ficha com receio: pediatria não era sua especialidade, mas era preciso atender, pois não havia nenhuma pediatra disponível. 
A paciente era uma menina de dois anos incompletos, carregada pela mãe. A criança vinha sorrindo, apesar da febre e falta de apetite. Ela e a mãe estavam alojadas num abrigo.
Há pouco tempo naquele local, a médica já entendera que era preciso escutar o desabafo daquelas pessoas que haviam perdido familiares, vizinhos, amigos, pertences e até a casa.
Perguntou então, à mãe da criança, o que havia ocorrido.
- Saímos de casa quando a água começou a subir - contou a mulher -  Na busca por um terreno seco, presenciamos outras casas invadidas por água e lama, algumas desabando e, por toda parte, pessoas em desespero. Não tivemos tempo pra levar nada. Ensopadas e com frio, aguardamos por socorro. Fomos resgatadas por bombeiros e levadas a um dos abrigos improvisados. Depois de uma semana, minha filha começou a ter febre.
O exame clínico diagnosticou amigdalite. Providenciada a medicação e dadas as recomendações, despediram-se com um abraço.
- Rezarei por vocês - disse a médica.
Ela ouviu a seguinte resposta:
- Muito obrigada! Eu sei que somos sempre agraciadas, pois nada nos aconteceu. Minha família está viva e pudemos contar com socorro e abrigo e, também agora, com atendimento médico. O restante a gente reconstrói. A vida é o mais importante.
Tais palavras comoveram a profissional. Sozinha no consultório, a reflexão foi inevitável. Ficou impressionada com o sorriso da criança e o otimismo da jovem mãe. Nenhuma revolta ou queixa; somente gratidão pela vida.
Quando a fé é genuína, o sofrimento parece menor e a vida se torna bem mais leve.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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