O CASTIGO DA ARROGÂNCIA





Muito tempo atrás, havia um índio muito veloz. Era tão ágil que caçar nunca era problema para ele. E, graças a essa habilidade, tornou-se um afamado guerreiro. Entretanto, ele também ostentava um defeito enorme: tinha um ego mais alto que qualquer árvore.
Um dia, o cacique, impressionado com a agilidade de seu guerreiro, ofereceu-lhe a mão de sua filha, que era apaixonada por ele. 
O guerreiro aceitou a proposta e, enquanto ocorriam os preparativos do casamento, a noiva pediu um presente ao amado:
- Quero que você me ofereça o vaso do curandeiro da aldeia, como símbolo do seu amor.
O noivo, admirado, respondeu:
- Mas eu não concordo com isso! Não acho certo. O vaso não é nosso.
A moça, que conhecia bem o ego do futuro marido, retrucou: 
- Ah, tudo bem! Já imaginei que seria pedir demais pra você... não tem problema... pedirei a qualquer outro índio...
- Ah, isso não! Eu irei pegar o vaso! - retorquiu ele, cheio de arrogância. 
E, assim dizendo, foi e furtou o vaso do curandeiro que, mais tarde, deu pela falta do objeto. Indignado, amaldiçoou o ladrão:
- Se o vaso não aparecer, quem estiver com ele irá tornar-se o oposto do que é!
Com o passar dos dias, o guerreiro, antes tão veloz, foi ficando lerdo.
Quando chegou o dia do casamento, toda a aldeia estava reunida, menos o noivo. Ele demorou tanto a chegar que acharam que havia desistido; contudo, após muitas horas, ele chegou com uma aparência estranha: todo coberto de pelos! Logo todos entenderam que fora ele o ladrão do vaso.
Quando voltaram os olhares para a noiva, perceberam, com horror, que ela também ficara toda peluda.
Ela, querendo reparar o erro, foi devolver o vaso ao curandeiro; mas, ao pegar o objeto, não o segurou direito, pois tinha garras no lugar das mãos; de sorte que o vaso caiu e se espatifou em mil pedaços. Dessa forma, a maldição não pôde ser quebrada. 
O cacique não teve outra alternativa senão banir os dois para a floresta. E foi assim que surgiu o primeiro casal de bicho-preguiça.

Texto de Jéssica Iancoski, baseado em lenda indígena - adaptação de Marcos Aguiar. 

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