NÃO FOI TARDE DEMAIS!





Era um quase final de dia na UTI do Hospital de Base de Brasília. Um estagiário de psicologia estava preenchendo relatórios de pacientes - um tanto apressado porque, dentro de quinze minutos, deveria iniciar seu expediente.
Ele nunca chegara atrasado e pretendia manter sua reputação de pontualidade e bom profissionalismo. 
Prestes a terminar a papelada, foi interrompido por uma enfermeira da ala pediátrica que lhe pediu para ir conversar com um garoto que acabara de ser internado. A resposta foi rápida. 
- Por gentileza, peça a algum outro estagiário.
- Mas todos já completaram seus turnos. O senhor é o único presente. 
A princípio um pouco relutante, decidiu ir até o leito do garoto, supondo que não ficaria ali mais do que uns dois minutos.
O menino, de dez anos, era portador de uma neoplasia maligna, um câncer. Muito apreensivo, ligado a vários aparelhos, afirmava o tempo todo estar com medo. O estagiário, na tentativa de acalmá-lo, explicou para que servia cada um daqueles aparelhos a que ele estava conectado.
A conversa foi evoluindo até o momento em que o paciente disse que gostava muito de desenhar.
- Ah, que legal. Eu também gosto de desenhar. Hoje é sexta, mas na segunda, quando eu retornar ao hospital, trarei meus desenhos pra você ver, está bem?
A interação que não passaria de dois minutos chegara a uma hora. Passou rápido a ponto de esquecer que chegaria atrasado ao trabalho.
A primeira coisa que ele fez na segunda, assim que chegou ao hospital, foi ir direto ao leito do garoto, mas o encontrou vazio. Indagou da enfermagem se o menino recebera alta.
- Não. Ele veio a óbito no sábado.
Um pouco chocado, o estagiário pensou: "Graças a Deus que vim falar com ele e acalmá-lo. Como eu me sentiria mal, agora, se não tivesse feito isso!"
É sempre gratificante quando não é tarde demais e fazemos o que tem de ser feito.

Texto de Fábio William - adaptação de Marcos Aguiar. 

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