A GRANDE MESTRE





Em certo hospital, uma médica começou a observar uma faxineira que parecia exercer um efeito todo especial sobre os enfermos. Entrava e saía dos quartos, sempre limpando.
Aquela mulher nunca cursou uma universidade, mas com certeza conhecia um grande segredo. Cada vez que ela saía dos quartos, a doutora notava uma sensível diferença em seus pacientes.
Um dia, finalmente, cruzando com ela no corredor, a médica perguntou: 
- O que é que você está fazendo com os meus pacientes terminais?
A faxineira, educadamente, respondeu:
- Estou apenas limpando o chão. 
E se afastou.
A resposta não satisfez a doutora; nas semanas seguintes, ela se pôs a espionar a faxineira - literalmente. Até que um dia a faxineira se aproximou e a chamou para trás de um balcão. Certificando-se de que estavam a sós, contou:
- Doutora, eu cresci na pobreza e na miséria. Minha casa é um cortiço e as crianças vivem doentes. Um dia, meu menino de três anos ficou com pneumonia. Levei-o à emergência do hospital mais próximo, mas não fui atendida porque estava devendo dez dólares ali. Então fui a um hospital onde aceitavam indigentes. Entrei numa sala lotada e esperei... depois de três horas sentada esperando, meu filho arquejou, sufocou e morreu, enquanto o embalava nos braços... sabe, doutora, a morte já não me assusta. 
Embora rememorando o horrível incidente, a faxineira não demonstrava amargura ou pessimismo; apenas uma grande tristeza. E isso causou admiração na médica.
A mulher concluiu:
- Quando entro no quarto de alguns pacientes, vejo que estão petrificados de medo e não têm ninguém com quem falar. Daí, chego perto deles. Muitas vezes até seguro suas mãos e lhes digo que não se preocupem, que não é tão terrível assim.
Agora estava claro para a doutora que, pouco tempo depois, a promoveu como sua principal assistente. E foi graças ao apoio dessa assistente que a médica desenvolveu estudos e pesquisas que deram origem à tanatologia, o estudo sobre a morte.
Há por aí, em toda parte, mestres e professores não-convencionais - pessoas sem muita instrução, mas com muita sabedoria. Importante é estar atento a tais pessoas e às suas lições.
Nenhuma teoria ou ciência se equipara à habilidade de um ser humano que se dispõe a ajudar seu semelhante.

Texto de Elisabeth Kübler-Ross - adaptação de Marcos Aguiar. 

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