A "PRIMEIRA-DAMA DA LUTA"





Mary McLeod Bethune nasceu em 1875, em Mayesville, Carolina do Sul, Estados Unidos. Filha de ex-escravos e oriunda de numerosa família (16 irmãos), Mary ajudava a mãe a lavar roupas de brancos. 
Um dia, aos 12 anos, em casa de uma das clientes de sua mãe, apanhou um livro da estante e foi logo repreendida pela filha da dona da casa, que disse:
- Você é negra; negros não sabem ler!
Foi aí que Mary se deu conta de que o aspecto mais patente que desigualava brancos e negros era a alfabetização. Nesse tempo, em fins do século XIX, poucas salas no sul dos Estados Unidos admitiam negros.
Mary pressionou a família para matriculá-la em uma sala de aula para negros na Trinity Mission School, instituição dirigida pela Igreja Presbiteriana. Atenderam seu pedido mas ao mesmo tempo disseram que se virasse, já que não podiam lhe dar suporte. Ainda assim, sem apoio, Mary aceitou o desafio, caminhando 16 km todos os dias para chegar à escola.
Em pouco tempo, ensinou os pais e os irmãos a ler e a escrever, compartilhando com eles, em primeira mão, os bons resultados de seus esforços.
Por se destacar como melhor aluna da escola, Mary conseguiu uma bolsa de estudos no Instituto Dwight L. Moody, uma instituição religiosa que formava missionários e professores. Docente formada, iniciou sua carreira alfabetizando negros em fazendas e periferias americanas. De casa em casa, Mary transmitia a magia da leitura e da escrita para os excluídos da sociedade americana. 
Muito influente entre líderes políticos e religiosos batistas e metodistas, Mary conseguiu arrecadar fundos para abrir uma escola particular para afro-americanos em Daytona Beach. A instituição atingiu excelentes notas no ranking das melhores escolas da Carolina do Sul e, mais tarde, se transformou na Universidade Bethune-Cookman, uma das primeiras entidades educacionais a abolir a segregação entre negros e brancos.
Além do trabalho escolar e universitário, Mary conseguiu licença para lecionar em presídios, alfabetizando internos e encaminhando-os para o mercado de trabalho.
Mas o maior destaque na vida dessa heroína foi sua contribuição à luta pelos direitos civis dos negros, sendo uma das primeiras mulheres a organizar movimentos contínuos contra as leis Jim Crow, que favoreciam a segregação racial. Mary foi participante ativa de protestos contra o racismo institucional e escreveu manifestos, sintetizando as reivindicações da causa, conseguindo, com sua influência, pressionar deputados e senadores.
Mary debatia abertamente com os homens e mulheres mais racistas da elite política americana. Atuava de maneira tão incisiva que passou a ser chamada de "primeira-dama da luta". 
Sua consagração como porta-voz do movimento negro viria no início da década de 1940, quando foi nomeada conselheira sobre assuntos raciais pelo presidente Franklin D. Roossevelt, que buscava amenizar as tensões raciais nos Estados do Sul.
Estima-se que, em toda sua vida, Mary tenha alfabetizado diretamente mais de 5 mil pessoas. Levando em conta o legado e a quantidade de professores que formou, a legião influenciada por seus ensinamentos é inumerável.
O The New York Times inseriu Mary McLeod Bethune na lista das 10 maiores mulheres estadunidenses da história. Seu nome também figura no Hall da Fama das Mulheres Americanas.
Ela faleceu de tuberculose, aos 79 anos, em 1955 - o mesmo ano em que Rosa Parks, uma costureira de Montgomery, se recusou a ceder seu assento de ônibus para um branco, fato que desencadeou a maior luta da história do movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Mary não presenciou o fato mas, com certeza, sua influência contribuiu decisivamente para a consolidação das ideias que levaram o movimento negro a desafiar e derrotar a ordem institucional racista vigente nos Estados Unidos até à década de 1960.

Texto de Joel Paviotti - adaptação de Marcos Aguiar. 

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