RETORNANDO À VIDA




Fred conseguira concretizar seus planos: casara com uma moça inteligente e bela, tinha um status bem sucedido como gerente de vendas de uma empresa importante e seus dois filhos estavam na universidade. Tudo ia bem.
Contudo, um dia, o primogênito resolveu dar cabo da própria existência, sem que ninguém pudesse entender por quê. Seus pais se propuseram a lutar contra o desânimo e superar a sua perda. Mas, repentinamente, numa tarde de inverno, a esposa repetiu o ato insano do filho.
A segunda tragédia fez com que Fred alimentasse a ideia de que, de alguma forma, ele fora o culpado de tudo. Passou a evitar os amigos e fechou-se em seu quarto, sendo posteriormente internado em um hospital para doentes mentais. Seu único pedido: que o deixassem a sós.
Durante dois anos ele permaneceu apático, resistindo a todas as terapias. Recusava-se a abrir as cartas do filho, que estava em serviço militar no Pacífico; tampouco as respondia.
Quando finalmente o filho veio visitá-lo e avançou com os braços abertos, Fred voltou o rosto para a parede e não quis dizer qualquer palavra. 
Era um caso difícil!
Um médico, novato no hospital, se aproximou de Fred e lhe propôs uma tarefa: organizar os muitos livros doados à instituição e que estavam amontoados no porão. Que fossem separados de acordo com a temática e colocados organizadamente nas estantes da biblioteca. Fred não precisaria dizer nenhuma palavra.
Com muito mau humor, Fred aceitou a tarefa. "Ao menos", pensou, "estarei sozinho e ninguém vai me incomodar."
Sem o menor interesse, foi separando os livros em pilhas. De repente, deparou-se com um nome, escrito em dourado, numa capa desgastada: Harry Emerson Fosdick.
Como um raio, sua mente esquadrinhou o passado. Harry era o piloto amigo do seu irmão.
Lembrou do irmão e da família e todo o passado desabou sobre ele, como uma tempestade. Naquela noite ele levou o livro para seu quarto e o leu até à madrugada. O título do livro: "O poder de suportar as vicissitudes". Estava escrito, entre outras coisas:
"Por mais que a vida nos possa dar ou tirar, é absolutamente indispensável que o homem não perca a fé em si mesmo; que conserve diante de si a própria honra imaculada."
A ficha caiu para Fred. Ele se deu conta de que quando abandonara a vida antes da morte, é porque havia perdido a fé.
Pensou no filho Randall: a morte lhe levara o irmão e a mãe. A doença lhe tirara o pai. Mas Randall não entregara os pontos. Continuava lutando.
Até ali, Fred não quisera ficar bom. Continuava a não querer. Entretanto, sabia que PRECISAVA querer. Precisava retornar à batalha que abandonara, a fim de poder restaurar o respeito próprio.
E leu novamente: 
"A fé vital no Divino comunica ao homem um íntimo poder, uma visão espiritual: na companhia do Divino ele se provê de novas forças."
A partir dali, Fred iniciou a volta à vida. Era como um renascimento, uma ressuscitação da alma; e, assim renovado, estava disposto a enfrentar o mundo, sem temor.

Da revista "Seleções Reader’s Digest" - adaptação de Marcos Aguiar

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