O FIO MÁGICO




Era uma vez uma menina muito ansiosa.
Ela nunca estava onde parecia estar. Se estava em casa tomando o café, em sua mente já se via no dia seguinte fazendo a prova de matemática. Havia ido mal na prova, repetido de ano, deixado de viajar nas férias e depois... 
A voz da mãe a trouxe de volta:
- Menina! Onde você está com a cabeça? Derramou o café na mesa!
Mais tarde, na escola, durante a aula de português, mentalizava-se duas horas adiante, voltando para casa com as amigas; aí perdia a concentração nos estudos. Seu cérebro estava sempre situado no futuro, como uma máquina do tempo.
Certa tarde, ouviu alguém chamando-a. Era uma senhora de feição tranquila e bondosa, com idade de ser sua avó.
- Veja o que tenho aqui, menina - disse ela, mostrando uma bola feita de fios de seda.
- O que é isso?
- É o fio da sua vida; leve-o. Se você não mexer nele, o tempo passará normalmente. Mas, se quiser que o tempo acelere, dê um leve puxão na linha e uma hora passará como se fosse um segundo! Aceita?
Intrigada, a menina aceitou e resolveu testar.
No dia seguinte, levou a bola ao colégio. A primeira aula pareceu-lhe tão chata! Desejou que chegasse logo a hora da largada; daí deu um leve puxão no fio. No mesmo instante a sineta tocou e, lá fora, o sol estava se pondo.
A bola de fio funcionava!
A partir de então a menina recorria à bola com frequência, puxando-lhe o fio, um pouquinho de cada vez. Quando queria que a aula terminasse logo, puxava o fio e já estava no dia seguinte. Na quarta-feira, bastava uma puxadinha e já chegava o sábado.
Depois, descobriu que se puxasse um pouco mais, avançaria um ano e já estaria na faculdade. Já seria uma moça crescida!
Mais tarde, deu uma boa puxada ao saber que o namorado passaria dois anos estudando no exterior: agora já estava namorando outro! Melhor assim, pois não passaria pela dor da separação.
E assim ela ia puxando mais e mais, adiantando o tempo.
Contudo, começou a perceber que deixara de acompanhar momentos importantes como o nascimento dos filhos, a aposentadoria e a chegada do primeiro neto. 
Quando deu por si, já era uma mulher de meia idade.
Então a mesma senhora apareceu-lhe outra vez:
- E aí, querida, sua vida foi boa?
- Não tenho certeza. É verdade que, graças ao fio mágico, me livrei de muito sofrimento. Pulei partes ruins e isso foi ótimo. Mas tudo passou tão rápido e agora me resta tão pouco tempo! Sinto que ficou faltando alguma coisa!
- E o que acha que ficou faltando na sua vida?
- Tudo aquilo de que fugi e que teria me transformado, eu acho. Quem eu seria hoje se essa parte da minha vida não estivesse faltando? Parece que não aprendi nada e que minha trajetória não tem sentido, entende?
- Bom, então vou lhe conceder só mais um desejo, pra que você possa corrigir isso - disse a misteriosa senhora. 
A outra refletiu. Reviu o filme da própria vida. E respondeu:
- Quero começar tudo de novo, mas sem o fio mágico.
E fechou os olhos. 
Ao reabri-los, era de novo uma menina e estava em casa, tomando café e ouvindo a reclamação da mãe:
- Menina! Onde você está com a cabeça? Derramou o café na mesa!

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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