BENDITA DOR




Ao cair da tarde de um sábado frio, funcionários de um pronto-socorro receberam um casal e seu filho enrolado num cobertor. Pai e mãe se mostravam apavorados e o pai não parava de dizer: 
- Ele se queimou! Ele se queimou!
O que causou espanto aos plantonistas foi o fato de o menino parecer estar bem, esboçando até serenidade. No entanto, quando o colocaram na maca e retiraram o cobertor, constataram, estarrecidos, o grande estrago.
Ele sentara sobre a chapa quente de um fogão, queimando gravemente as nádegas e a parte posterior das coxas. O acidentado deveria, no mínimo, estar urrando ou desfalecido, mas ele não estava nem aí.
Encaminharam-no ao centro cirúrgico para a retirada do tecido morto, entre outros procedimentos. Estava claro, mesmo para os não-profissionais, que o paciente precisaria de um transplante de pele.
Os maqueiros ouviram, intrigados, a explicação do especialista: 
- O que vocês presenciaram é um caso raro de "síndrome de Ryley-Day", uma anomalia genética que afeta os neurônios sensoriais. A vítima não sente dor e é esta a sua desgraça.
A dor física, longe de ser algo ruim, é uma benção, pois faz com que nos afastemos automaticamente do perigo. Semelhantemente, quando somos assaltados por dores emocionais, significa que algo não está bem conosco. 
Angústia, tristeza e raiva são sinais de alerta. Devemos investigar a raiz de tais sentimentos, antes que eles nos dominem. Não podemos fingir que a dor não existe, nem colocar debaixo do tapete aquilo que nos fere.
As más sensações, assim como doenças e acidentes, não podem aguardar tratamento; devem ser resolvidas o mais brevemente possível. 

Texto de Eugenio Mussak - adaptação de Marcos Aguiar. 

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