A PRECIOSIDADE DE ROBERTSON




Como acaba o amor entre um casal? - era a pergunta que Robertson se fazia sempre. Desde a juventude ele lera muito a respeito, especialmente para não deixar que se extinguisse a chama da paixão por sua mulher.
Ele se esforçava pra que cada dia fosse único para ambos. Lembrava de comprar flores sem comemoração nenhuma, somente para surpreender a esposa e vê-la sorrir. Telefonava, em pleno expediente, só pra dizer:
- Amor, eu te amo!
Entretanto ela, Muriel, acabou por sucumbir muito cedo ao Mal de Alzheimer. Seu marido indagava-se, perplexo, por que isso tinha acontecido, embaçando o brilho dos olhos dela.
Apesar da enfermidade, Muriel continuava a ser uma mulher adorável ao olhos de Robertson. Ele chegou ao ponto de abandonar a profissão para se dedicar integralmente à esposa. Ele lhe falava tantas coisas, contudo ela não entendia e nem respondia.
Certa tarde, um ex-aluno de Robertson o encontrou no supermercado e lhe perguntou, à queima-roupa:
- Reitor, o senhor não sente falta de suas atividades?
A pergunta pegou Robertson com as calças na mão. Ele jamais refletira antes a respeito. Lembrou quão gratificante era seu antigo trabalho. Ao mesmo tempo, deu-se conta do quanto tivera que aprender para cuidar da casa e atender a todas as necessidades de sua amada.
Naquela noite, meditou assim: 
"Eu gosto do que estou fazendo. Não me queixo e não tenho nenhum arrependimento. Cuidar da mulher que amo e estar ao lado dela me faz feliz. No entanto, desde então, permaneço no banco de reservas, fora do jogo. Por que tive que ficar de fora?"
Na manhã seguinte, como de costume, o casal saiu para uma caminhada ao redor do quarteirão. Andavam lentamente, no ritmo de Muriel. O esposo a segurava ao mesmo tempo firme e delicadamente. E assim seguiam abraçados pela calçada.
Um transeunte desconhecido, passando por eles, fitou-os atentamente e, sorrindo, comentou:
- Muito bem! Gostei! Gostei disso!
E seguiu pela rua, repetindo:
- Gostei disso! Muito bem! Gostei!
As palavras aparentemente desconexas daquele homem ficaram inculcadas na mente de Robertson. Aí a ficha caiu e ele finalmente compreendeu. Ali estava a resposta à sua indagação.
"Muito bem! Gostei!"
"Entendi! Posso estar no banco de reservas, mas se o que estou fazendo é o certo, então é isso o que importa! Agora sei, com certeza, que minha vida é mais feliz que a da maioria. Muriel é minha preciosidade. E se posso estar ao lado dela, ouvindo a voz do seu silêncio e fitando o seu olhar quase apagado, eu agradeço pela oportunidade de cuidar do amor da minha vida!"

Texto de Alice Gray - adaptação de Marcos Aguiar. 

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