O MAIS POBRE E MISERÁVEL




Um monge deixou o monastério e saiu pelas ruas da cidade, exibindo um punhado de moedas de cobre na palma da mão. Logo surgiram mendigos de todos os cantos e o rodearam. Aí ele anunciou:
- Darei estas moedas somente ao mais pobre e miserável deste lugar!
Cada pedinte se apresentou diante dele, achando-se o contemplado. Mas o monge ia repelindo a todos, dizendo:
- Não, não é você!
- Nem é você também!
- E nem você!
E assim o monge continuou a caminhar.
De repente uma fanfarra de trompetes estremeceu a cidade. Soldados se apressavam, abrindo caminho em meio à multidão, proclamando que o Maharaja estava deixando o palácio, montado no elefante real.
Todos se posicionaram no meio-fio, ansiosos pela passagem do rei e em fazer-lhe reverência. No entanto, ao aparecer o soberano, o monge se pôs à frente do elefante e gritou:
- Oh, grande Maharaja! Tenho algo para o senhor!
E lançou em direção ao rei as moedas de cobre, que tilintaram ao lado das grossas patas da montaria real.
O Maharaja ficou surpreso e exigiu saber a razão daquilo.
- Majestade: fiz um voto, prometendo que hoje eu entregaria essas moedas ao homem mais pobre e miserável da cidade.
- Eu!? - esbravejou o rei - Sou o dono desta cidade! Sou o dono do país inteiro! Como tem a audácia de dizer essas palavras?
- Porque o senhor é insaciável por mais terras e bens e nunca se satisfaz com tudo o que já possui!
Se vive obcecado por aquilo que ainda não tem e nunca agradece pelo já tem, então você é a criatura mais digna de pena que existe!
 
Conto indiano - adaptação de Marcos Aguiar. 

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