FAZER O BEM COM O QUE TEM




Numa cidade muito pobre, havia um oleiro especializado na fabricação de cântaros e com esse trabalho obtinha o seu sustento e ainda sobrava um pouco para saciar a fome de algum pedinte que lhe batesse à porta.
Todas as tardes, ao terminar a labuta, ele ia às montanhas para rezar e meditar e assim revigorava o espírito. 
Certo dia, quando estava em sua olaria, viu passar a suntuosa caravana de um nobre, rodeado de muita pompa. Observou, impressionado, como o rico lançava moedas aos pobres do caminho.
O oleiro então pensou: "Eu poderia ser tão rico quanto esse homem. Ter um palácio, inúmeros criados, desfrutar das coisas boas da vida, além de ser poderoso, temido e admirado. Também poderia, assim, ajudar melhor os necessitados. E ainda poderia, com meu exemplo, levar outros ricos a agirem como eu. Juntos, poderíamos eliminar a fome e a miséria do mundo."
Assim pensando, o oleiro decidiu enriquecer e elaborou um plano meticuloso. Se trabalhasse com mais empenho, mais horas por dia, se melhorasse a qualidade dos seus cântaros, poderia acumular uma quantidade maior deles e vendê-los na próxima feira. Ganharia muito mais dinheiro e prosperaria grandemente. 
Nesse pensamento, trabalhou dia e noite, quase sem descanso e fechando os olhos para tudo, inclusive para a caridade. Quando algum necessitado o procurava, ele, sem pausar a tarefa, dizia:
- Espere. Agora estou ocupado, trabalhando para enriquecer e beneficiar você e os demais. Volte no verão.
Também interrompeu seus momentos devocionais, dedicando aquelas horas à confecção de mais cântaros, enquanto sonhava com a riqueza.
O tempo passou e veio o verão. O oleiro se dirigia à feira da capital com seus numerosos vasos, antevendo os bolsos cheios de moedas, quando foi surpreendido por ladrões, que lhe levaram as mulas e sua preciosa carga, desaparecendo em seguida.
Sozinho, a pé e atônito, o homem se pôs a lamentar:
- Como sou infeliz! Roubaram-me tudo! Agora não tenho como servir aos outros!
Mas aí ele ouviu sua voz interior a dizer-lhe:
"Não lamente. Os bens que te foram tirados apenas serviriam para alimentar tua ambição e vaidade. Deveria, sim, chorar pela fortuna que perdeste há muito tempo."
E, ante o espanto do oleiro, concluiu a voz:
"Bati tantas vezes em tua porta, faminto, e me negaste o pão!"
Se quer fazer o bem, não precisa esperar. Ajude com o que você tem.

Texto de Dolores Bacelar - adaptação de Marcos Aguiar. 

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