A VEZ DO VOVÔ

Durante uma grande guerra na Europa, uma família composta de dez pessoas foi forçada a sair de sua casa enquanto tropas inimigas invadiam a região onde viviam. Perceberam que a única chance seria atravessando as montanhas que circundavam a cidade. Se tivessem sucesso, alcançariam o país vizinho e estariam a salvo. 

Só que havia um contratempo: o patriarca da família, avançado em idade, não estava muito bem. Todos então sabiam que a fuga seria difícil; o ancião, também consciente disso, falou:

- Deixem-me aqui. Serei um empecilho para o plano de vocês, só vou atrapalhar. E depois, os soldados não irão se importar com um velho como eu.

Os filhos, entretanto, protestaram:

- De modo nenhum, pai! O senhor vai! E se o senhor não for, permaneceremos todos aqui.

Vencido pelas argumentações, o idoso cedeu. Assim partiram em direção às montanhas, todos caminhando em silêncio.

Trataram de seguir o mais rapidamente possível; portanto combinaram de se revezar em carregar a caçula do grupo, uma menina de apenas um ano. Assim ninguém ficaria exausto.

Após várias horas de difícil escalada, o avô se sentou em uma rocha. Pendeu a cabeça e, quase em desespero, suplicou:

- Deixem-me para trás! Não vou conseguir. Sigam sozinhos!

- De jeito nenhum! Nunca o deixaremos! O senhor vai continuar! E vai conseguir! - respondeu um dos filhos com entusiasmo. 

- Não! - insistia o idoso - Deixem-me aqui!

O filho não se deu por vencido. Aproximando-se do pai, disse com mal disfarçada brandura:

- Vamos, pai. Precisamos do senhor. É a sua vez de carregar o bebê.

O velho levantou o rosto. Viu as fisionomias cansadas de todos. Olhou para a neta enrolada num cobertor, no colo do seu outro neto de treze anos. Notou o esforço quase sobre-humano do garoto tão magrinho.

- Claro - disse o avô, levantando-se - É a minha vez. Deem-me a menina.

Ajeitou a netinha no colo, fitou seu rostinho inocente e sentiu uma enorme força fluindo.

- Vamos! - disse ele, levantando-se - Já estou bem. Só precisava descansar um pouco. Vamos andando! 

E assim a família prosseguiu. Naquela mesma noite, conseguiram cruzar a fronteira e se salvar. Todos eles. 

Se teu semelhante está prestes a desistir, ajude-o. No que estiver ao teu alcance, não permita que um irmão fique à margem do caminho somente porque não recebeu um incentivo para prosseguir até à vitória final.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.