UM GARFO NO CAIXÃO




A visita de Martha era sempre motivo de muita alegria para o padre Jim. "Tia Martie", como era chamada pelas crianças, parecia contagiar a todos com sua simpatia, esperança e amor.
Contudo, dessa vez, o padre percebeu algo diferente nela. Com expressão séria, Martha contou que o médico acabara de lhe dar um diagnóstico preocupante: estava com câncer em estágio avançado.
- Ele disse que tenho, na melhor das hipóteses, apenas mais três meses de vida. 
As palavras de Martha eram graves, embora ditas com bastante calma.
- Eu lamento muito - foi o que padre começou a dizer; mas, antes que ele prosseguisse, Martha o interrompeu:
- Não lamente. Somos amigos há muitos anos e o senhor é testemunha de que tive uma vida longa e feliz e estou pronta para despedir-me dela. Então vim falar-lhe sobre meu funeral.
Conversaram por um bom tempo sobre tudo o que ela desejava para sua cerimônia fúnebre - cânticos, temática do sermão e outros detalhes.
Padre Jim achou que Martha já havia falado sobre tudo, mas ela acrescentou:
- Há mais uma coisa. Quando me enterrarem, quero que coloquem um garfo em uma de minhas mãos.
- Um garfo? - indagou o padre, surpreso.
- Sim, um garfo. Estive pensando em todos os jantares e banquetes da comunidade a que compareci ao longo dos anos. Havia algo que sempre me chamava a atenção. Em todas aquelas reuniões tão agradáveis, quando a refeição estava quase no final, alguém vinha recolher os pratos sujos. Posso até ouvir as palavras agora. A pessoa se inclinava sobre o meu ombro e dizia baixinho: “Pode ficar com seu garfo!” O senhor sabe o que isso queria dizer? Que a sobremesa estava vindo! E não se tratava de um pote de gelatina, um pudim ou uma taça de sorvete, porque nada disso se come com garfo. Significava que era uma sobremesa de primeira: um bolo de chocolate ou uma torta de cereja! Quando me diziam que eu podia ficar com o garfo, eu sabia que o melhor ia chegar; é exatamente sobre isso que quero que as pessoas falem no meu funeral. Elas podem lembrar todos os bons momentos que tivemos. Isso também será ótimo. Mas, quando passarem pelo meu caixão, quero que se espantem e perguntem: “Para que o garfo?” Aí o senhor lhes dirá que eu fiquei com o garfo porque o melhor ainda vai chegar!
"Vivei bem e sabereis morrer bem", já diz um ditado oriental.

Texto de Roger William Thomas - adaptação de Marcos Aguiar. 

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