TUDO A SEU TEMPO




A lagarta ia se arrastando pelo solo com lentidão, deixando um rastro gosmento e triste. A coitadinha estava cheia de pensamentos pessimistas.
"Sempre a arrastar-me nesta terra dura e cheia de cascalho! Sou o mais infeliz dos bichos do bosque! Se ao menos fosse bonita, tudo seria mais fácil!", lamentava-se. 
Perdida em tais pensamentos, sentiu de repente um vento sobre sua cabeça. Era o beija-flor.
- Olá, lagarta! Nossa, você está com a cara da tristeza! Que se passa?
- Ah, amigo! Estou tão cansada de me arrastar! Queria voar, ser leve e elegante como tu! 
- Mas você é tão fofa e se movimenta tão graciosamente!
- Não me importo com isso! Queria voar! Acha que eu conseguiria? Poderia me levar ao alto de uma árvore e me ensinar?
- Mas, amiga, você não tem asas. Como queres voar desse jeito? Só iria se machucar.
- Machucada já estou por dentro... não tenho asas, só consigo rastejar e, de quebra, sou horrorosa!
Nesse ponto chegaram à margem do rio. O boto deu um grande salto de satisfação ao ver os dois amigos.
- Que bom! Vieram me visitar?
- Não, amigo boto, só estamos passeando e conversando - disse a lagarta.
- Nossa amiga está aqui a se lamentar pelo fato de ser uma lagarta - contou o beija-flor. 
- Sim, é verdade. Eu queria ser diferente! Queria voar ou, pelo menos, dar saltos na água como tu, boto. Me sinto a mais infeliz das criaturas!
- Amiga! - respondeu o boto - Deixe disso! Por acaso não sabes que estás a caminho da tua transformação? Em breve serás uma deslumbrante borboleta! Só precisa aguardar!
- Sim, isso mesmo! - completou o beija-flor - Já vi isso acontecer com várias lagartas!
- Não sei. Acho que nunca vai acontecer comigo - murmurou a lagarta, chorosa.
Nesse ponto a toupeira, que a tudo escutara sob sua toca, saiu de dentro dela e falou:
- Eu estava relaxando aqui no meu ninho quando ouvi vossa conversa. Lagarta, escute. É preciso saber esperar a hora certa de adquirir sua melhor versão. Achas que basta estalar os dedos e a coisa acontece? Não! Tudo tem a sua hora! A sua chegará logo!
Diante de tantas palavras de incentivo, a lagarta reconheceu sua infantilidade e egoísmo. Queria tudo do jeito dela. Precisava era esperar para se transformar.
E foi o que aconteceu. 
Em pouco tempo, os amigos da lagarta e os outros bichos testemunharam sua bela metamorfose. Transformou-se numa graciosa e magnífica borboleta, que passou a espalhar alegria por toda parte com suas asas multicores.

Texto de Vanda Furtado Marques - adaptação de Marcos Aguiar. 

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