O MAIOR PATRIMÔNIO




O português Frei Bartolomeu dos Mártires (1514-1582) viveu para servir. Dizem que, certa feita, na comunidade em que ele trabalhava, em Braga, resolveram construir uma suntuosa catedral, um templo que pudesse abrigar multidões.
Para tanto, os nobres da cidade combinaram de, anualmente, contribuírem com elevadas somas para o grandioso projeto.
Assim a construção foi tomando forma. Ergueram-se as colunas, as paredes, chegando-se finalmente ao teto.
Foi então que uma crise abateu-se sobre o país, atingindo a grande massa. Os menos favorecidos tentavam, desesperadamente, driblar a fome, a miséria e as moléstias.
Como líder da comunidade, Frei Bartolomeu tinha à sua disposição todo o dinheiro arrecadado para a conclusão da catedral, cuja administração lhe competia. Então, naquele ano, ele interrompeu a obra. "O templo tem teto; pode esperar", pensou.
Os nobres, no entanto, prosseguiram com suas doações. No segundo ano, a construção permaneceu parada, assim como no terceiro, no quarto e no quinto; até que, dez anos depois, a catedral continuava inacabada.
Embora confiassem na integridade de Frei Bartolomeu, os nobres se reuniram para conversar com ele. Depois de escutá-los, explicou:
- Segundo me consta, há mais de duas mil famílias em necessidade. Como pai espiritual de todas elas, não posso permitir que meus filhos passem fome. Todo o dinheiro tem sido gasto com essas pessoas. 
- Sabemos disso, Frei! - disse um dos nobres - Está certo que o senhor ajude essas criaturas, mas poderia reservar para isso apenas uma pequena percentagem da soma que lhe entregamos.
Frei Bartolomeu suspirou e respondeu:
- Os senhores me fazem uma proposta muito curiosa. Ao invés de transformar pedras em pães, os senhores me pedem que faça o contrário: que eu transforme pães em pedras.
Com isso deram razão ao nobre pastor: a vida humana tem mais valor que qualquer edificação. 

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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