HONESTIDADE ACIMA DE TUDO




No tempo da Segunda Grande Guerra, uma garota chamada Ana saía ao campo à procura de alimento para si e para a mãe. Ia de bicicleta e geralmente cansava de tanto pedalar. Era uma época difícil, com carestia de comida em muitos lugares; havia escassez até de legumes. 
À exceção de algumas beterrabas cedidas por um lavrador, Ana não tinha conseguido mais nada.
Reparou que estava muito enfadada para prosseguir. Precisava parar e descansar. Encontrou uma boa árvore, encostou nela a bicicleta e o cesto com as beterrabas, depois estirou-se na relva. 
Acabou pegando no sono.
Sonhou com comida: cenouras douradas, cozidas a vapor, com nata e manteiga. Havia também muitos tomates. Ela se preparava para comer um, quando de repente tudo desapareceu. Nesse ponto, acordou com o cacarejo ininterrupto de uma galinha caipira que surgiu ali, bem perto.
- Por que é que estás a olhar para mim, sua tonta? - gritou Ana com raiva.
A galinha recuou, assustada.
Foi então que a menina notou um ovo graúdo deixado pela ave. Pegou nele cuidadosamente; ainda estava quentinho.
- Oh, minha linda! - exclamou - Desculpa ter sido dura contigo. Obrigada por este ovo tão bonito!
Mas a galinha fez pouco caso, afastando-se. 
Ana tratou de voltar logo para casa; queria levar o ovo à sua mãe. Talvez desse pra uma pequena omelete. Tirando o lenço que usava na cabeça, embrulhou o ovo e o depositou delicadamente no cesto, por cima das beterrabas. Montou na bicicleta e começou a subir a trilha. 
No entanto, um pensamento triste tomou conta dela. Ponderou que o ovo não lhe pertencia. Pertencia ao dono da galinha. 
“Não”, repensou, “o ovo é meu. A galinha o pôs perto de mim enquanto eu dormia. Além disso, nem sei de quem é a galinha. E, mesmo se soubesse, ninguém adivinharia que estou com o ovo.”
Havia uma casinha branca perto da estrada. Como tinha tirado apenas um cochilo, Ana ainda se sentia sonolenta e com dificuldade para pedalar. Ao se aproximar da casa, quis ir até lá. Uma jovem senhora atendeu-lhe à porta.
- Sim?
- A senhora tem, por acaso, uma galinha caipira?
- Oh, sim, eu crio uma.
Lenta e cuidadosamente, Ana retirou o ovo do lenço e o entregou à mulher.
- Então isto também lhe pertence.
- Oh, muito obrigada. Aquela galinha anda sempre escapulindo e deixando os ovos em qualquer lugar. É a única que nos resta e precisamos dos ovos para o meu filhinho, que está enfermo.
Ana virou-se para ir embora. A mulher refletiu por um breve momento.
- Ei, mocinha, espere. Foste tão gentil. Gostaria de te dar algo, apesar de não termos quase nada.
- Não faz mal - respondeu Ana com sinceridade. 
Despediu-se da mulher com um sorriso e foi embora. 
Quando foi chegando em casa, ficou receosa. Achou que a mãe ficaria brava por ela chegar tarde com apenas algumas beterrabas e por causa da história do ovo. 
Ao ouvir o relato de Ana, a mãe simplesmente acariciou-lhe o cabelo e a mirou com orgulho.
- Então a senhora não ficou zangada comigo?
- Claro que não, querida. Só penso na filha maravilhosa que tenho. Quando se anda com tanta fome e cansaço, só um verdadeiro adulto poderia agir com tamanha honestidade!
Uma estória simples, mas que não precisa de legenda.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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