"UMA VERDADEIRA CONCILIAÇÃO"




Aparentemente era mais uma formal audiência de conciliação.
Numa briga de trânsito, um homem havia agredido outro. O agressor, porém, não compareceu à audiência, de maneira que não se pôde formalizar um acordo entre as partes. O juiz estava prestes a pronunciar a sentença quando a esposa do agredido pediu a palavra. 
Relatou a cena terrível que acontecera e que fora presenciada também pela filha, de apenas sete anos.
- Minha filha está em crise desde então. Chora toda vez que o pai sai de casa e entra em desespero, temendo que ele seja novamente agredido. Há algumas semanas ela vem sendo acompanhada pela psicóloga, mas sem nenhuma melhora. Meritíssimo, tudo o que desejo é uma nova audiência, a fim de que o agressor peça desculpas ao meu marido diante de todos, especialmente da minha filha.
Era um pedido inusitado. O juiz pensou um pouco e, compreendendo a angústia daquela mãe, decidiu protelar o caso e marcar nova audiência.
Na data marcada, ambas as partes compareceram. Inesperadamente, sem titubear, o agressor se dirigiu ao agredido e o abraçou diante de todos, pedindo-lhe desculpas. Explicou que estava muito atarantado no dia do incidente no trânsito. Pediu desculpas também à esposa do agredido e ainda entregou à filha deles um pequeno presente.
Quinze dias depois, a mulher retornou ao fórum e pediu para falar com o juiz.
- O senhor salvou a minha filha! Ela está curada! - contou, comovida. Mas o magistrado respondeu: 
-Não fui eu; foi a senhora. Eu jamais teria tido essa ideia. O processo teria sido encerrado com a aplicação de uma multa ou qualquer outra penalidade mínima, visto ser infração de pequeno potencial ofensivo. A senhora, sim, é que salvou a sua filha. A senhora foi a mediadora de uma verdadeira conciliação.
Quanto sofrimento e desperdício de tempo poderíamos evitar se nos esforçássemos para encurtar o caminho entre a ofensa e a reconciliação! Mas a maioria prefere complicar tudo.
Por isso, não importa tanto onde reside a culpa, mas de que lado virá a paz.

Texto de Jorge de Oliveira Vargas - adaptação de Marcos Aguiar. 

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