OS BOTÕES "MILAGROSOS"




Havia um povoado cuja população era muito fria. Seus moradores eram todos rabugentos e amargos; só sabiam reclamar uns dos outros e viviam isolados em suas casas, indiferentes àqueles que não possuíam um teto sobre a cabeça. 
Um dia, passou por ali um mendigo. Morto de fome e agoniado com o frio, bateu à porta de uma daquelas casas. Um "vai embora" sonoro e grosseiro enxotou o pobre pedinte, que hesitou muito antes de pedir ajuda em outra casa.
A recepção não foi diferente: mais gritos e xingamentos o fizeram sair em disparada.
O maltrapilho sentou desanimado num velho banco da praça e se pôs a mastigar um pedaço de pão duro catado na lixeira.
Quando se levantou para seguir seu caminho, percebeu a porta entreaberta do que parecia um abrigo. Meio desconfiado, foi entrando devagarzinho.
Encontrou o guardião do abrigo e seu ajudante, ambos igualmente congelados pelo tédio daquele lugarzinho chato.
- Olá! - disse o mendigo.
Não recebendo resposta, limpou a garganta e emitiu uma saudação ainda mais sonora, mas em vão outra vez.
Aproximou-se então do sr Chamas, o guardião, e disse:
- Que pena que não posso fazer aquela sopa quentinha a fim de espantar o frio e matar a fome!
- Sopa? - falou interessado o velho, levantando a cabeça. 
- Sim! Sei fazer uma deliciosa sopa de botão de osso, mas são necessários seis botões e eu só tenho cinco.
- Não temos nenhum botão de osso aqui, mas o alfaiate pode nos ajudar - interveio o ajudante.
- Jamais pedirei alguma coisa àquele velho babão! - resmungou o sr Chamas.
Mas a vontade de tomar sopa acabou falando mais alto. O guardião e o ajudante foram ter com o alfaiate, que os recebeu de má vontade. Contudo, ao ouvir o nome "sopa", ele repentinamente se interessou e foi buscar um botão, mas fez esta exigência:
- Vou lhes dar o botão, mas quero ir com vocês e tomar da sopa!
O mendigo precisou também de uma colher de pau, uma panela grande e uma faca, além de muitos legumes. Então o Sr. Chamas, seu ajudante e o alfaiate foram de porta em porta para pedir os utensílios e materiais para a desejada sopa.
As pessoas se lembravam que tinham isto ou aquilo na despensa e assim as coisas foram aparecendo. 
A sopa ficou pronta e todos comeram até se fartar. Surgiu até alguém com música; o povo cantou e dançou a noite inteira.
No dia seguinte, não faltaram portas abertas para o mendigo fazer uma refeição ou hospedar-se. Entretanto ele precisava continuar sua sina pelo mundo... despediu-se e se foi - mas não antes de deixar os botões milagrosos pra que o pessoal continuasse fazendo sopa.
O tempo passou e os botões, um a um, se perderam. Mas aquela gente já havia descoberto que o verdadeiro milagre não estava nos botões e, sim, na harmonia que agora reinava ali, onde todos passaram a se dar bem e a se ajudar mutuamente.

Texto de Aubrey Davis - adaptação de Marcos Aguiar. 

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