O BEM E O MAL NO MESMO LUGAR




Esopo (620-564 a.C.) era um escravo de rara inteligência que pertencia a um renomado chefe militar da antiga Grécia.
Certo dia em que seu senhor conversava com um amigo sobre os males e virtudes do mundo, Esopo foi chamado para dar sua opinião sobre o assunto. Ele declarou prontamente:
- Tenho a mais absoluta certeza de que a maior virtude da Terra está à venda no mercado.
- Como é? - indagou o amo com surpresa - Você tem certeza do que está dizendo? Como pode afirmar tal coisa?
- Não apenas afirmo como posso ir até lá e trazer essa virtude, se assim o senhor me permitir.
O dono de Esopo permitiu que ele fosse ao mercado. Em pouco tempo retornou, trazendo um pequeno embrulho. Ao abrir o pacote, o amo se deparou com vários pedaços de língua. Enfurecido, deu ao escravo uma chance de se explicar. 
- Meu senhor, eu não o enganei. A língua é de fato a maior das virtudes, pois com ela podemos abençoar, instruir, esclarecer e consolar. O senhor não concorda?
O amo disse "sim" com a cabeça. Já o amigo dele retrucou:
- Muito bem! Já que você é tão inteligente, que tal trazer-nos agora o pior vício do mundo?
- Sim, senhor. Isso também é perfeitamente possível e, se meu amo permitir, irei novamente ao mercado e trarei o pior vício que existe.
Concedida a permissão, Esopo saiu outra vez e, dali a pouco, voltou com outro pacote tão pequeno quanto o anterior.
Ao abri-lo, o amo e seu amigo encontraram mais pedaços de língua.
- E agora? Qual a sua explicação? - indagaram.
- Do mesmo modo que a língua se converte numa sublime virtude quando bem aplicada, pode se transformar no mais terrível dos vícios quando mal utilizada. Por meio dela se concebem intrigas, discussões infrutíferas, violência e confusão. Acaso podeis refutar o que digo?
Ambos emudeceram, impressionados com a inteligência singular do servo. 
Seu amo, posteriormente, reconhecendo o disparate de ter alguém tão sábio como escravo, concedeu-lhe a liberdade.
Como homem livre, Esopo tornou-se, mais tarde, um contador de fábulas que perpetuaram seu nome ao longo da História. 

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UMA FILA QUE VALEU A PENA

A VERDADEIRA RIQUEZA

OS PREGOS