JINGWEI




O rei Sol tinha uma filha muito amada e tão linda que até mesmo o imperador era cheio de admiração por ela.
Sempre que o rei Sol saía para recepcionar a chegada da aurora, a filha desejava ir com ele. Mas ele não a levava, alegando estar muito ocupado para vigiá-la.
Um dia, então, sem que o pai percebesse, ela saiu atrás dele, num barco. Infelizmente, uma tempestade se levantou e o mar, furioso, tragou a filha do Sol, deixando-o completamente desolado. 
Mas a filha do Sol renasceu na forma de um pássaro de cabeça listrada, garras vermelhas e bico branco, tornando-se conhecido como "Jingwei" por causa de seu canto lamentoso.
Jingwei jurou vingança contra o mar, dizendo que o transformaria em terra seca. Assim, começou a catar pequenas pedras e jogá-las nas águas.
O mar, zombeteiramente, falou:
- Desista, pequeno pássaro! Mesmo se passasse um milhão de anos fazendo isso, você nunca me transformaria numa planície deserta!
Jingwei retrucou, rancoroso:
- Levarei esse tempo e até mais se for preciso, mas farei de você terra seca!
Até hoje, os descendentes de Jingwei prosseguem na interminável "vingança", lançando pedrinhas ao mar para aterrá-lo.
A estória de Jingwei inspira tanto admiração quanto pena. Admiração por sua persistência; pena por sua sede insana de vingança, alimentada pelo ódio sem fim.
No que vale a pena empenhar-se? Na vingança ou no perdão? Na guerra ou na paz?

Texto de Xinran, baseado numa lenda chinesa - adaptação de Marcos Aguiar. 

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