ENQUANTO HÁ TEMPO...




Aos 21 anos de casado, um homem descobriu uma nova forma de manter viva a chama do amor: ele decidiu sair com outra mulher.
Na realidade foi ideia da própria esposa.
- Você sabe que a ama - disse-lhe a esposa um dia, pegando-o de surpresa - A vida é muito curta e você deve dedicar tempo especial a essa mulher...
- Só que eu amo você - argumentou o marido.
- Eu sei; mas você também a ama. Tenho certeza disto.
A outra mulher com quem a esposa fez questão que o marido passasse tempo era a mãe dele - viúva há 19 anos e que há muito não recebia visitas do filho, devido à rotina corrida dele.
Assim, certa noite, mãe e filho saíram para passear e jantar.
- O que é que você tem? Você está bem? - perguntou a mãe, visivelmente preocupada (afinal, aquele inesperado convite surpresa do filho poderia ser indício de algo ruim, foi o que ela pensou). 
- Pensei que seria agradável passar algum tempo com a senhora; só nós dois, entende?
Ela refletiu por um momento.
- Claro que isso me agrada - respondeu ela sorrindo.
Interessante é que a mãe estava emocionada como num encontro romântico. Esperara o filho na porta com um penteado pra lá de caprichado e com o vestido que usara em seu último aniversário de bodas. Seu rosto irradiava luz quase angelical. 
- Contei às minhas amigas que ia sair com você e elas ficaram muito impressionadas - comentou empolgada.
Entraram num restaurante simples mas aconchegante. A senhora agarrara-se ao braço do filho; para quem via de fora, parecia um autêntico casal.
Sentados à mesa, frente a frente, a mãe fitava o seu filho com ternura, sorrindo nostálgica.
- Era eu quem lia o cardápio quando você era pequeno...
- Então é hora de relaxar e me permitir devolver o favor...
Comeram e conversaram à beça, a ponto de perder o horário do cinema. Depois combinaram sair outras vezes.
- E aí, como é que foi? - perguntou a esposa, curiosa, quando ele chegou.
- Muito agradável... muito mais do que imaginei...
Foi a última vez em que mãe e filho sairiam juntos. Dias mais tarde ela faleceu de enfarte fulminante.
Tempos depois ele recebeu um envelope com a cópia de um cheque do restaurante onde havia jantado com a mãe; e, além do cheque, havia uma nota:
"Paguei antecipado o próximo jantar que teríamos, porque estava quase certa de que eu poderia não comparecer; de maneira que paguei para ti e para tua esposa. Jamais poderás entender o que aquela noite significou para mim. Te amo, filho."
Afastou o bilhete umedecido com as próprias lágrimas; só então ele compreendeu a importância de dizer "eu te amo", àqueles que merecem, enquanto há tempo.

Texto de Rony Lima - adaptação de Marcos Aguiar. 

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