DESENCONTROS E REENCONTROS




Paulo pisou fundo no acelerador, desrespeitando o limite de velocidade. Dirigia-se a uma reunião de negócios e não tinha tempo a perder. Alucinado, procurava driblar todo obstáculo móvel à sua frente.
No momento em que alcançava a rodovia expressa, foi fechado por um veículo que saía de uma via lateral. Paulo abriu a janela do carro e berrou com o motorista, vomitando palavrões.
Marco não quis deixar barato, pois também estava muito apressado. Tomado pela raiva, fechou novamente o carro de Paulo na curva seguinte, numa manobra rápida. 
A tensão entre os dois apressados aumentou. Paulo bufava. Aquele sem-vergonha o desafiara duas vezes. Em pouco tempo, conseguiu também "se sair melhor", dando uma fechada no carro de Marco. Parecia uma disputa pra ver quem colocaria o outro para fora da pista.
Os malucos insistiram com sua guerra insana durante todo o trajeto, frequentemente gritando um contra o outro expressões de baixo calão. Parecia que não iriam mais parar. A fogueira do ódio teimava em não apagar.
Contudo, a disputa terminou com a freada barulhenta de ambos os veículos. Pararam no mesmo local, em frente a um prédio.
Paulo desceu e entrou. Marco estacionou ao lado. Depois, não se sabe como, os dois se reencontraram dentro do elevador!
Surpresos, fuzilaram um ao outro com olhares de ódio, contudo nada disseram, porque havia outras pessoas no compartimento.
Saíram completamente desnorteados do elevador e, quando deram por si, estavam diante da mesma porta. 
Aí a ficha caiu.
A reunião havia sido marcada precisamente para eles por um intermediário; Paulo era o fornecedor e Marco, o cliente.
O mundo dá muitas voltas e há caminhos que frequentemente se cruzam.
Em qualquer trecho da vida poderemos reencontrar alguém que, num momento de insanidade, tratamos mal. Então, o que custa ser mais educado com as pessoas?

Texto de Judith Leventhal - adaptação de Marcos Aguiar. 

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