CORAGEM VERDADEIRA




Certa manhã, o rei leão acordou irritado, deixando seus súditos em pânico. Eles então se reuniram a fim de encontrar um jeito de acalmar o soberano dos animais.
- Tenho uma ideia! - disse o camelo - Sabemos que o rei gosta de ouvir histórias. Se um de nós for à sua presença e lhe narrar algo interessante, tenho certeza de que ele se acalmará.
Os outros acharam a ideia excelente; mas quem teria a audácia de aproximar-se de um leão mal-humorado?
O chacal levantou a pata e declarou, todo orgulhoso:
- Se a melhora do rei depende do relato de uma história, então já está resolvido. Conheço mais de trezentas histórias e fábulas que aprendi durante minhas andanças pela floresta. Com certeza uma delas irá apaziguar o nosso rei.
Todos então se dirigiram ao "palácio" (na verdade, uma caverna). Mas o chacal, no meio do caminho, parou de repente; e, tremendo, confessou:
- Mas que coisa! Das trezentas histórias que eu sabia de cor e salteado, restaram-me duzentas; esqueci o resto.
- Ora! - retrucou o tamanduá - Com certeza as duzentas serão mais que suficientes para abrandar o coração do rei!
E assim retomaram o cortejo.
Quando estavam já perto da caverna e ouvindo os urros assustadores do leão, o chacal parou novamente.
- Caramba, esqueci mais histórias! Só lembro de cem agora!
Os outros, a essa altura, já estavam desconfiando do chacal; mesmo assim, o encorajaram a seguir. 
Pondo-se novamente a caminho, chegaram, afinal, à entrada da caverna. Um rugido do leão, agora bem mais forte, congelou a todos, incluindo o chacal, que desmaiou de susto.
- E agora? - entreolharam-se todos, desesperados. 
Quem poderia substituir o chacal?
Foi aí que a raposa, até então calada, afirmou conhecer uma ótima história que certamente deixaria o rei sossegado. 
Como não havia outra opção, todos concordaram. Assim a raposa seguiu, sozinha, penetrando na densa escuridão da caverna.
Todos permaneceram ali, aguardando ansiosos o desfecho da perigosa empreitada. 
Cerca de uma hora depois, surgiu a imponente figura do leão, com um semblante sereno e feliz e, ao seu lado, a raposa - com a cintura envolta pela faixa dourada de conselheiro do rei.
Que história teria ele contado ao soberano para merecer tamanha honraria?
Foi o que perguntaram à raposa. Ela explicou, sorrindo:
- Contei ao rei a peça que o presunçoso chacal nos pregou e ele achou tanta graça que seu mau humor desapareceu num instante!
Parece que, longe do risco, todos se empolgam e apresentam ideias geniais. A verdadeira coragem, porém, só se revela quando a pessoa vai e enfrenta a situação. Porque de promessas o mundo já transborda.

Texto de Malba Tahan - adaptação de Marcos Aguiar. 

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