UMA BAILARINA EM AUSCHWITZ




Mais de uma vez, Edith ouvira os pais comentando: "Poderíamos ter evitado essa." Com o tempo, ela pôde compreender que o que eles queriam dizer é que ela não fora planejada.
Ela podia sentir isso, todos os dias, pelo tratamento que recebia. Jamais uma palavra de elogio ou incentivo.
Para Klara, a irmã mais velha, choviam louvores; aos cinco anos já tocava violino maravilhosamente. Já Magda, a outra irmã, era uma brilhante pianista. Mas a Edith só dirigiam depreciações. 
O pai lhe disse, um dia, que desejava que ela tivesse nascido menino.
As irmãs, fazendo coro às críticas, até criaram uma música para ela: 
"Você é tão feia
Você é tão pequena 
Nunca vai arranjar um marido."
E, pra completar, sua mãe dizia que ela nunca seria bonita.
Apesar de tudo, Edith foi para a escola de ballet e o seu intuito era ser a melhor. Quando sua turma foi convidada a se apresentar em um festival, ela se sentiu maravilhosa.
No estúdio, mais de uma vez, fora incentivada pelo professor. Só o que ela pensava é que iria brilhar na apresentação e seus pais a iriam aplaudir.
No entanto, enquanto sonhava acordada, no trajeto para a escola, ela perdeu todo o dinheiro que lhe fora entregue para pagar o trimestre inteiro.
Pela primeira vez, enfrentou a raiva do pai, que ergueu os punhos e lhe bateu. Nenhuma palavra saiu da boca dele.
Naquela noite, em sua cama, Edith desejou morrer e quis que seu pai sofresse pelo que fizera com ela. Também desejou que ele morresse.
Aos 16 anos, Edith e sua família foram deportados para Auschwitz. Ela sobreviveu àquele inferno, mas a um preço muito alto. Sofreu diversos sintomas de estresse pós-traumático até os 50 anos.
Contudo ela deu a volta por cima, por meio da profissão que abraçou (doutora em psicologia), dedicando-se a ajudar outras pessoas, inclusive veteranos de guerra vitimados por traumas físicos e emocionais.
A grande maravilha do ser humano é que ele tem o poder de superar a si mesmo. Se ele quiser, jamais será derrubado por qualquer intempérie da vida. Ele pode prevalecer. Se quiser. 

Autoria anônima - adaptação de Marcos Aguiar. 

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