O PACIENTE DO LEITO SEIS




Uma enfermeira novata estava entusiasmada em começar seu expediente noturno. Designada para a UTI, teve entre suas primeiras incumbências o acompanhamento a um paciente com AVC. Ao checar sua temperatura, percebeu que ele dormia profundamente, mas mantinha um estranho sorriso. O AVC lhe afetara gravemente a fala e os movimentos.
Com o passar dos dias, a enfermeira observou que o quadro do paciente permanecia estável e que ele conservava, mesmo dormindo, aquele sorriso. 
No final da primeira semana, a enfermeira trocou o plantão com uma colega e trabalhou durante o dia. Teve então uma surpresa. Descobriu que o paciente do leito seis recebia visitas quase ininterruptas durante todo o período de visitação. Pessoas que se revezavam para contar histórias, cantar e rezar por ele.
A todos ele recebia com o mesmo sorriso. Seus olhos, muitas vezes, lacrimejavam. Era evidente que queria falar algo, mas não conseguia.
No entanto, apesar de toda a limitação para se comunicar, ele conseguia sorrir. Sorria com olhos e não apenas com os lábios. Piscava de diferentes formas e com velocidades variadas, expressando sentimentos e emoções.
A enfermeira novata, assim como todo o corpo de enfermagem, ficavam impressionados. Aquele paciente devia ser muito querido porque eram muitas as visitas que ele recebia, todos os dias. Quem seria ele?
As respostas dos visitantes eram diversas:
- É um maravilhoso amigo!
- É um mestre!
- Um ser de luz!
- Alguém que faz muita falta lá fora!
- Um colega muito amoroso e incrível!
- Um ser humano de primeira grandeza!
Para enfermeiros e médicos, ele passou a ser "o querido paciente do leito seis". 
Algum tempo depois ele teve outro AVC e sua condição se agravou. Não resistiu desta vez.
Óbitos faziam parte da rotina daqueles profissionais de saúde, mas a morte do paciente do leito seis deixou lembranças profundas e emocionantes em todos eles. Acima de tudo, ele deixou um exemplo de resignação, rebatendo as dores e limitações com um inesquecível sorriso. Olhava a todos nos olhos e seu olhar parecia agradecer os cuidados e carinho recebidos. Certamente, em seu leito de morte, desejou luz a todos que se empenharam em tornar sua vida menos solitária e desagradável. 
Aqueles que sabem compartilhar alegria e espalhar gratidão nunca ficam sós e nunca partem sozinhos.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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