A RECONSTRUTORA DE FACES




Como se não bastassem milhões de mortes, a Primeira Grande Guerra deixou também um numeroso e triste saldo de mutilados - a grande maioria nas trincheiras, onde os soldados ficavam vulneráveis.
Só na Europa, foram mais de vinte mil. Alguns ferimentos faciais deixavam as vítimas desfiguradas e sem funções básicas, como fechar os olhos ou a boca. Apesar de já existir, na época, a cirurgia plástica reconstrutiva, nem todos tinham acesso a esse recurso. Em muitos casos, as cicatrizes eram tão terríveis que os homens se isolavam ou conseguiam trabalho somente em lugares obscuros - sem falar na depressão, que era devastadora.
Uma alternativa muito em voga surgida nesse tempo foi a máscara facial, que ajudava a disfarçar as mutilações.
Uma das pioneiras nesse campo foi uma escultora americana que se destacou, não apenas pela delicadeza de detalhes, mas também por criar um ambiente que ajudava os soldados a sararem emocionalmente. Seu nome: Anna Coleman Ladd (1878-1939).
Em 1917, Anna mudou-se com a família para Toul, na França. Acompanhada de quatro assistentes, ela criou o Estúdio de Máscaras da Cruz Vermelha Americana em Paris. No estúdio eram oferecidas palestras que preparavam os soldados para o retorno à sociedade. Anna os chamava carinhosamente de "valentes sem rosto".
As máscaras eram baseadas em fotografias antigas e longas conversas com os mutilados. A máscara, feita com folha de cobre muito fina, era colocada no rosto do paciente e pintada com cor quase idêntica à tonalidade de sua pele.
Graças a essas máscaras, vários daqueles homens deixaram a vida de reclusão. Muitos, emocionados, agradeciam a Anna, porque agora seus filhos não tinham mais medo deles. Alguns até conseguiam namoradas e sentiam-se confiantes para transitar novamente pelas ruas.
Anna, posteriormente, foi agraciada com a medalha da Ordem de São Sava, na Sérvia, e homenageada como Chevalier da Legião Francesa de Honra por seu trabalho que é considerado a gênese da Anaplastologia, hoje amplamente utilizada em cirurgias plásticas e em próteses.
No entanto, as homenagens mais especiais que ela recebeu foram as de inúmeras cartas recebidas dos soldados aos quais não deu somente rostos mas, principalmente, a motivação para viver.
Anna Coleman, essa mulher corajosa e dedicada, devolveu dignidade a quase duas centenas de ex-combatentes. Sua nobre missão jamais será esquecida.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 

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