PEDAGOGO DO AMOR




Janusz Korczak, nascido na Polônia no final do século XIX, se tornou protagonista de um dos episódios mais comoventes da História. Oriundo de uma rica família judaica, ele se formou médico pediatra, abandonando posteriormente a profissão em prol de um trabalho voluntário: ia às casas de pessoas menos favorecidas para ensiná-las a prevenir doenças e educar suas crianças sobre higiene.
Em 1912 Korczak fundou um orfanato na cidade de Varsóvia, onde passou a acolher órfãos de judeus ao longo da Primeira Grande Guerra. A instituição cresceu de tal modo que foi preciso ampliar consideravelmente as instalações.
Korczak realizou ainda outros grandes feitos. Numa época em que crianças começavam a trabalhar muito cedo, ele se tornou um dos maiores defensores do direito à infância, elaborando as primeiras leis de proteção às crianças na Europa. Ele costumava dizer:
- Não há vida adulta saudável sem a garantia de uma boa infância.
Mas o feito por excelência do "velho doutor", como era também conhecido, teve lugar na Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação da Polônia pelos nazistas. Com a invasão do exército alemão, os judeus de Varsóvia foram confinados num enorme gueto e vigiados 24 horas por dia. O orfanato de Korczak, que à época abrigava mais de 200 crianças, foi transferido para uma instalação precária, também dentro do gueto. Como os judeus recebiam pouca comida e tinham que se manter com o comércio interno, Janusz contou com a boa vontade de outros moradores para conseguir mantimentos, livros e cadernos e assim prosseguir com a educação dos pequenos. Formou e ampliou uma escola, ajudando a educar mais de 1000 crianças. 
Em 1942, quando os nazistas iniciaram a "Solução Final", foi expedida pelo Reich a seguinte ordem:
"Todos os órfãos do Gueto serão transferidos para Treblinka." 
Korczak recebeu a proposta de continuar no Gueto com a possibilidade de até ser libertado, mas se recusou a se separar de seus órfãos, dizendo:
- Não se abandona uma criança enferma ou carente durante a noite. Eu tenho duzentos órfãos; num momento como este, estarei ao lado deles a cada minuto!
Em 5 de agosto de 1942, quando a SS recebeu ordem para acabar com o Gueto de Varsóvia, 192 crianças e seu protetor foram encaminhados para a morte, num evento posteriormente conhecido como " a última marcha dos órfãos". 
Janusz preparou como pôde suas crianças para o terrível destino. Munidas de seus livros prediletos, elas marcharam para o trem alemão entoando canções típicas da infância e lendo trechos dos livros. Algumas sorriam, imaginando talvez estar participando de uma excursão. De mãos dadas com o velho doutor, adentraram o vagão ao som das palmas de outros judeus; e assim o pedagogo e seus alunos foram transportados para o seu derradeiro destino - executados em uma câmara de gás, quilômetros dali. 
Korczak teve a chance de escapar desse fim trágico, mas preferiu não abrir mão de seus queridos alunos pelos quais lutou a vida inteira, visando uma sociedade mais justa e humana. Ele sabia que o advento do nazismo era uma desgraça que tinha muito a ver com uma educação falha e a falta de respeito a uma infância serena e saudável.

Texto de Joel Paviotti - adaptação de Marcos Aguiar.

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