MECANISMO AQUÁTICO

Num belo e enorme aquário havia muitos peixes de vários tipos e tamanhos.

Na parte de cima do aquário nadavam os peixes maiores, que capturavam grande parte da comida que caía diariamente; dessa forma, se sentiam sempre satisfeitos e sem o desejo de descer a partes inferiores do viveiro.

No meio do aquário viviam os peixes de porte médio, que conseguiam apreender a maior parte da ração que os peixes grandes deixavam escapar; já no nível inferior, viviam furtivamente os peixes pequeninos, que se contentavam com os diminutos restos de alimentos que chegavam até eles. Era a única opção que tinham para sobreviver. 

Mas havia ali um peixinho que não se conformava com aquela situação. Um dia, ao explorar todos os cantos do aquário, se deparou com um pequeno buraco. Daí ele pensou:

"Aonde será que esse buraco pode me levar? Tenho esperança de que seja pra um lugar melhor e mais feliz que este!"

Resolveu então passar pelo buraco, o que foi fácil, pois ele era tão pequeno quanto o orifício. 

Encontrou um fio de água que o levou para um ralo; do ralo caiu num encanamento que desembocava numa lagoa.

"Maravilhoso!", exclamou o peixinho, extasiado. "Aqui tem comida pra todo lado e o espaço é amplo! É muita felicidade pra um peixe só! Vou voltar ao aquário e dar a boa notícia a todos!"

De volta ao aquário, o peixinho contou sobre a lagoa e como havia comida em abundância. Porém os outros ficaram intrigados com o relato e indagaram:

- Mas como você descobriu isso? Como chegou lá?

O peixinho explicou:

- Vocês, peixes maiores que moram no nível superior, precisam vir para a parte de baixo a fim de perder peso e assim poder passar pelo pequeno buraco que leva ao paraíso. Terão que renunciar à boa vida, se quiserem a liberdade.

Mas nenhum deles queria abrir mão de suas regalias e privilégios e uniram-se contra o pequeno peixe, chamando-o de charlatão e agitador.

Levado a julgamento, sentenciaram-no à morte por ter ousado desafiar a elite do aquário.

A tirania do Mecanismo sobre os honestos vem de tempos imemoriais e infelizmente deve continuar, pois a maioria dos humanos tem gana pelo poder.

Texto de Renato J.G.Filho - adaptação de Marcos Aguiar.