A GANÂNCIA FRUSTRADA

Um pobre andarilho parou ao meio-dia para descansar à sombra de uma árvore. Já havia andado muito e tudo o que tinha para comer era um pedaço de pão.

No outro lado da estrada havia um quiosque de doces e salgados. Logo o homem começou a sentir a agradável fragrância daquelas delícias, enquanto mastigava seu pãozinho dormido.

Quando se levantou para seguir seu caminho, o dono do quiosque subitamente saiu correndo atrás dele e agarrou-o pela camisa.

- Espere aí! Você tem que pagar pelos doces e salgados!

- Mas como assim? Eu nem estive em sua venda!

- Mas é óbvio que você sentiu o cheiro delicioso dos meus lanches, enquanto degustava o seu pão! Não deixarei que saia daqui enquanto não me pagar. Não trabalho à toa, amigo!

A essa altura já havia uma pequena multidão em volta dos dois e um juiz local foi acionado para resolver a questão. 

Após ouvir os argumentos de ambos os lados, o magistrado pensou um pouco e disse ao comerciante:

- Você está certo. Sentencio que este homem lhe pague três moedas de ouro pelo cheiro de seus doces e salgados. 

- Isso é um absurdo! - protestou o forasteiro - Sem falar que não tenho um único centavo furado!

- Muito bem - respondeu o juiz - Neste caso, irei ajudá-lo. 

Tirou três moedas de ouro do próprio bolso e o padeiro deu um passo à frente para pegar o dinheiro.

- Ainda não! - disse o juiz - Você diz que esse homem apenas sentiu o cheiro dos seus lanches, correto?

- Sim, isso mesmo.

- Quer dizer que ele não comeu nenhum de seus doces ou salgados?

- Ele nem mesmo esteve em meu quiosque, meritíssimo.

- Certo. Então, já que ele consumiu apenas o aroma, você será pago somente com o som. Aguçe os ouvidos para receber o que merece.

O juiz então jogou as moedas de uma mão para outra, fazendo-as retinir bem perto das orelhas do comerciante; e assim o caso foi encerrado.

Você também é ganancioso? Cuidado para não acabar ficando "sem mel e sem cabaça"!

Texto de Renato Antunes Oliveira - adaptação de Marcos Aguiar.