SALVO DUAS VEZES




Em agosto de 2001, Moshe, um empresário judeu norte-americano, viajou para Israel a negócios. Numa quinta feira, no intervalo de uma reunião, ele aproveitou pra lanchar numa pizzaria na esquina da rua Yafo, no centro de Jerusalém. 
Moshe percebeu que teria que esperar bastante se quisesse comer, pois o estabelecimento estava lotado; só que ele não dispunha de muito tempo. Impaciente, pôs-se a ziguezaguear perto do balcão. 
Percebendo a agonia do estrangeiro, um israelense ofereceu-lhe o próprio lugar na fila. Moshe aceitou e agradeceu muito. Feita a refeição, saiu da pizzaria em pouco tempo. 
Menos de cinco minutos depois, Moshe ouviu um estrondo terrível. Assustado, voltou-se: um homem-bomba acabara de se detonar na mesma pizzaria. Moshe imediatamente lembrou do israelense que lhe oferecera o lugar na fila. O sujeito salvara a sua vida e agora poderia precisar de ajuda.
Moshe correu para o local do atentado e encontrou uma situação caótica. Além do terrorista, outras dezoito pessoas morreram, incluindo seis crianças, além de cerca de noventa feridas. Muito pânico e gritos ao redor. Vítimas ensanguentadas socorridas por policiais e voluntários.
Moshe procurou seu salvador por toda parte, porém não o encontrou. Mas ele estava decidido a localizá-lo de qualquer jeito e esse nobre empenho fez com que esquecesse da reunião que o aguardava. Começou a percorrer os hospitais para onde tinham sido levados os feridos.
Após uma busca minuciosa, Moshe finalmente encontrou o israelense que, embora muito ferido, não corria risco de morte. Conversou com o filho daquele homem e contou o que acontecera. Depois, despedindo-se, disse:
- Acredite, farei por seu pai tudo o que for preciso, pois devo a vida a ele. Tome meu cartão; por favor, não hesite em me ligar caso seu pai precise de ajuda e para me informar sobre seu estado.
Quase um mês depois, já em Nova York, Moshe recebeu um telefonema em seu escritório. Era o rapaz contando que seu pai precisava de uma operação de urgência. Segundo os médicos, o hospital mais indicado para a delicada cirurgia ficava em Boston.
- Certo! - respondeu Moshe - Providenciarei para que seu pai seja operado aqui nos EUA. Pagarei todos os custos, incluindo passagens e estadia de vocês. E mais: faço questão de recepcioná-los no aeroporto e acompanhá-los ao hospital.
E assim foi.
Dificilmente outra pessoa teria feito tanto esforço apenas por gratidão; mas Moshe sabia retribuir um favor.
Naquela manhã de terça-feira, 11 de setembro de 2001, Moshe acompanhou seu amigo ao hospital em Boston, deixando de comparecer ao seu escritório, situado no 101º andar do World Trade Center.
Só mais tarde, Moshe compreendeu que seu amigo israelense, mesmo hospitalizado, o salvara pela segunda vez.

Texto de Issocher Frand - adaptação de Marcos Aguiar. 

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