O DESTINO DA ARROGÂNCIA




Um vaga-lume esverdeado fazia voltas e voltas em torno de si mesmo, extasiado pelo próprio brilho. E, enquanto revoava pela escuridão da mata, pensava com seus botões luminosos:
- Sou uma autêntica esmeralda cintilante e viva! Com certeza tenho essa luz por ser superior a todos os outros insetos! Sim! Sou o guia e orientador de todos eles! Haverá, em toda a mata, outro como eu? 
E, enquanto voava por entre plantas, flores e moitas, inflamava mais e mais o seu discurso delirante:
- Olá, grilos de asas cinzentas e sem brilho, formigas que trabalham sem um instante de glória, mariposas opacas, míseras lagartas, aranhas horrorosas, cupins que perdem as asas e ficam tontos até morrer! Estou aqui para tirar vocês das trevas!
E, voando mais alto, comparou-se às estrelas:
- Sou uma de vocês, irmãs celestes, pois também pisco nas alturas! Faço parte da constelação da selva!
Envaidecido, mergulhou para alumiar o mato outra vez quando, subitamente, sentiu uma lufada de ar que o envolveu em algo pegajoso; logo se viu no interior de uma atmosfera nojenta e escorregadia. Acendendo o traseiro, deparou-se com uma centena de insetos à sua volta, pressionados uns contra os outros.
Uma lesma sonolenta levantou a cabeça e resmungou irritada:
- Idiota! Se não fosse você com essa mania de brilhar, o sapo-boi jamais teria nos engolido na escuridão. Agora apaga essa luz que eu quero dormir!
Cuidado para não se assoberbar com os talentos e dons que você tem! 

Texto de Millôr Fernandes - adaptação de Marcos Aguiar.

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