AS PEQUENAS COISAS
As sandálias do jovem monge ecoaram nos degraus da escada de pedra que levavam aos porões do velho convento. Ao entrar no mal iluminado recinto, o mancebo localizou, com alguma dificuldade, o sábio ancião que procurava. Estava sentado atrás de uma enorme escrivaninha, coberto por um capuz, debruçado sobre um livro, tão velho quanto ele.
Ainda timidamente, o discípulo se aproximou.
- Mestre, qual o sentido da vida?
O idoso monge permaneceu em silêncio, sem nem mesmo erguer os olhos. Apenas apontou para um pedaço de pano grosseiro no chão, junto à parede. Depois apontou para o alto, para o vidro da janela, coberto de poeira e teias de aranha.
Num gesto automático, o jovem pegou o pano e subiu numa estante forrada de livros, alcançando a vidraça. Esfregou-a com força e retirou toda a sujeira. A luz da tarde inundou o aposento, revelando estranhos objetos, instrumentos raros e incontáveis pergaminhos com anotações misteriosas.
Cheio de euforia, o jovem declarou:
- Entendi, mestre. Devemos nos livrar de tudo aquilo que impeça o nosso aprendizado; retirar o pó do preconceito e a teia das opiniões que aplacam a luz do conhecimento. Só então poderemos enxergar as coisas com mais nitidez.
Fez uma reverência e saiu da sala, alegremente.
O velho monge, novamente sozinho, sentiu o bom calor do sol no rosto e uma claridade a que se desacostumara na clausura.
"Mais importante do que aquilo que alguém mostra é o que o outro enxerga", pensou, sorridente. "Afinal, eu só queria que ele colocasse o pano no lugar de onde caiu..."
Tudo o que você faz influencia a outros. Por isso, procure fazer as coisas corretas, começando pelas pequenas coisas.
Seja você aquele que não joga lixo no chão, que cumpre as leis do trânsito, que arruma o próprio quarto, que respeita as filas em qualquer lugar. Espere sua vez sem xingar. Preserve a paz. Haverá sempre alguém que se inspirará em você.
Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.
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