AMBOS GANHANDO




Dois amigos cultivavam um campo de trigo do qual eram sócios. Trabalharam arduamente por meses sem resultado aparente até, enfim, chegar a época da colheita. 
Valeu a pena o esforço, porque era uma safra deveras abundante, o suficiente pra os dois repartirem o trigo igualmente, e assim o fizeram.
De posse de sua parte, cada um seguiu seu rumo.
À noite, já no leito, um deles pensou : "Sou casado, tenho filhos fortes e uma companheira leal. Com certeza eles me darão assistência em meus anos de velhice. Mas o meu sócio, coitado, vive sozinho e não tem parentes; nunca terá alguém pra cuidar dele. Com certeza irá precisar muito mais que eu do dinheiro da colheita".
Ele então levantou-se no meio da noite, colocou sua metade dos sacos de trigo na carroça e saiu.
Enquanto isso, seu amigo não conseguia pregar os olhos, pois também estava preocupado:
"Pra que preciso de tanto dinheiro se não tenho ninguém pra sustentar? Já não tenho idade para ter filhos e também não penso mais em casar. Minhas necessidades são muito menores que as do meu sócio, que tem uma família enorme!"
E assim raciocinando, pulou da cama, encheu a carroça com sua parte do apurado e saiu em direção à casa do amigo.
Na estrada escura daquela madrugada de inverno, os dois amigos se encontraram, cada um espantado por ver o outro com a carroça cheia de trigo.
Entretanto, nada precisaram explicar; cada um entendeu a nobre intenção do outro e, num forte abraço, selaram definitivamente sua amizade.
Amigo é aquele que compreende o outro, mesmo no silêncio e sem emitir palavra alguma, pois os sentimentos falam mais alto.

Conto judaico - adaptação de Marcos Aguiar. 

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