SÓ NA HORA




Um dia, a morte passeava pela floresta quando encontrou uma menina.
A garotinha não pareceu nem um pouco assustada com a figura esquelética da morte, como esta esperava.
- Você está perdida também? - indagou a menina.
A morte, sorridente, respondeu:
- Estou sim. Mas você realmente não sabe mais o caminho de volta para sua casa?
- Não... mas isso pouco importa; agora não me sinto mais só, nem estou com medo, pois você está comigo.
A morte, surpresa, retrucou:
- Então você não tem medo de mim, sabendo quem eu sou?
- Não estou com medo. O importante é que me faça companhia, porque está ficando escuro. Mas vou lhe pedir apenas um favor.
- E o que seria?
O semblante da garotinha foi tomado pela tristeza e ela respondeu, quase chorando:
- Por favor, poupe minha mãe. Ela está muito doente e eu saí à procura de ervas medicinais na mata e acabei me perdendo como você sabe. Estou preocupada em não poder voltar a tempo de ver minha mãe com vida. Estamos sozinhas em casa; o papai morreu há um ano e desde então é a mamãe quem cuida de mim e da casa.
Pela primeira vez a morte deixou de lado o sorriso zombeteiro e ficou triste. Pois, na realidade, ela não encontrara a criança por acaso; tinha vindo buscá-la, e agora já não estava certa disso. 
Decidiu então ajudar a pobre garota a encontrar a casa da mãe dela.
Depois de muito andar, encontraram afinal uma trilha que levava direto à casa da menina. 
Próximas à casa, a morte parou. 
- Você não vem? - perguntou a menina.
- Desculpe. Isto é o mais longe que posso ir.
- Mas você não vem mais comigo? 
Quase com doçura, a morte fitou aqueles pequenos belos olhos.
- Não. Nem você e nem sua mãe virão comigo. Agora não. Vá; cuide dela. No tempo certo voltarei e ela irá comigo.
Abraçando a estranha companheira, a menina se despediu, dizendo:
- Obrigada! Estarei esperando por você alegremente, porque sei que você não é ruim!
A morte, comovida, virou-se na direção da mata, sob as últimas luzes do dia e envolvida na penumbra.
Nem antes, nem depois: a morte virá até você apenas na hora marcada e no momento certo. Se sua vida é digna e honesta, certamente não terá receios quando sua hora chegar.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.

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