CONFISSÕES DA COLEGA DE UMA AMIGA

 

"Ontem, ao atender o telefone, meu mundo desabou. Entre soluços, a voz do outro lado da linha avisou que a minha melhor amiga morrera num grave acidente.

Desliguei o telefone e andei a esmo pelo meu quarto, completamente desnorteada.

Imagens de um passado feliz vieram-me à mente de imediato. A faculdade, conversas até altas horas, confidências ao pé do ouvido, incontáveis sorrisos e risadas em momentos descontraídos.

Recordei nossa formatura, marcada por lágrimas e despedidas. Vi, em seus olhos, a promessa de que jamais seria esquecida por ela. E, realmente, nunca fui.

Perdi a conta das vezes em que ela me ligava quando eu estava na pior. As palavras e mensagens que ela me enviava eram cheias de sinceridade e de esperança e muito me confortaram.

Lembro que foi em seu ombro que chorei a morte do meu pai. Foi também no ouvido dela que desabafei sobre o fim do meu noivado. Ela sempre esteve disponível.

Contudo, não consegui recordar uma única vez em que liguei para ela pra dizer o quanto estimava a sua amizade. Eu estava sempre muito ocupada e não tinha tempo. 

Nunca me preocupei em mandar pra ela uma mensagem edificante como as que ela me enviava com frequência. Nunca me ofereci para ouvi-la, nem falei que ela poderia contar comigo a qualquer hora. 

Acho que nunca imaginei que ela tivesse problemas ou tristezas; sempre a via sorrindo e disposta a ajudar-me. Não concebia a ideia de que ela se sentisse solitária, já que sempre me oferecia sua agradável companhia. 

Agora todos estes pensamentos são vãos, pois ela não está mais aqui. 

Estou me preparando para ir ao enterro dela. E é só agora que admito, entre lágrimas, que hoje é que tenho o dia disponível para acompanhá-la a seu derradeiro descanso, quando poderia ter reservado tempo para ser mais amiga para ela, em vida. 

Ela, sim, foi uma amiga para mim; mas, para ela, eu fui apenas uma colega, que recebia mas não retribuía."

E você? É colega ou amigo dos teus amigos?

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.