CONSOLAÇÃO

 

Sentada em sua sala, numa manhã de inverno, Stella sentia um frio maior que o do clima. Um frio que vinha de dentro. É que agora ela estava sozinha.

Seu amado David falecera há três meses. Ela jamais poderia imaginar que sentiria tanto sua falta. Desde que chegara o diagnóstico de câncer terminal dele, Stella se preparara para o pior. E ele também. 

Prudente e organizado, David deixara toda a papelada em ordem. Não faltaria dinheiro para sua querida esposa. Ele pensara em tudo. Mas a ausência dele era terrível. 

De repente, o toque da campainha. Stella foi atender. 

Era um rapaz com uma enorme caixa.

- É a senhora Araújo? - perguntou.

Ao sinal afirmativo de Stella, ele pediu licença para entrar e colocou a caixa no meio da sala. E explicou:

- Desculpe, senhora. A entrega deveria ser feita apenas na véspera do Natal. Porém hoje é o último dia de expediente no canil. Espero que a senhora não se importe.

Em seguida entregou-lhe um envelope, abriu a caixa e retirou o presente: um filhote de labrador.

- A carta explica tudo. - continuou o moço - O animal foi comprado em julho, quando a mãe dele estava prenha. Ele agora tem seis semanas de idade. Vou trazer o restante da encomenda. 

Trouxe, em seguida, outra caixa contendo ração, uma correia e um livro sobre cuidados com cães. 

Quando o rapaz se foi, Stella, comovida, deixou-se cair na poltrona. Acabara de reconhecer no envelope a caligrafia de David. Tremia inteira. 

Nesse interim o cãozinho fitava-a, sentado a seus pés, à espera de um afago, quem sabe.

A carta não era longa, mas repassada de carinho. David a escrevera pouco tempo antes de morrer e a confiara ao dono do canil. Seria seu último presente de Natal para Stella. 

A carta terminava assim: "Meu amor, seja forte e não se preocupe. Um dia nos reencontraremos."

Após enxugar as lágrimas, Stella segurou o pequeno labrador. Era tão leve quanto a almofada do sofá. 

O dócil filhote lhe deu a primeira lambida no queixo, se aninhou em seu pescoço e ficou ali, quietinho.

Stella chorou, mais uma vez, num misto de saudade e consolação. Seu amado esposo realmente pensara em tudo, inclusive numa agradável companhia depois que ele partisse.

Texto de Cathy Miller - adaptação de Marcos Aguiar.