COMO UMA FADA DE MÁRMORE

 




O célebre filósofo grego Sócrates (470-399 a.C.) era também escultor. Uma vez, a prefeitura de Atenas o incumbiu de esculpir em mármore a estátua de uma fada, que seria colocada próximo a uma fonte, no bosque.
Sócrates aceitou o serviço e tratou de providenciar um bom bloco de mármore.
Durante algum tempo, ele simplesmente apenas observou a bruta rocha. Depois então é que começou a trabalhar.
Empunhando o martelo, foi desbastando a pedra. Lascas enormes voavam pra todo lado, na oficina. Mais tarde, largou o martelo e passou a utilizar ferramentas mais leves - cinzel, entalhadeira e ponteiro.
Para a arte final, usou uma pedra esmeril, dando à estátua o formato definitivo e detalhado.
Assim a tarefa foi concluída. Todos os atenienses se reuniram para admirar aquela obra.
Era a figura de uma jovem esbelta e graciosa, tal qual se imaginava serem as divindades das florestas e das águas. A fada parecia flutuar com sua silhueta delicada e bem feita. Ninguém que não estivesse informado poderia supor que aquela pequena maravilha fora feita inteiramente de uma única pedra de mármore.
Mas, diante das exclamações de admiração do povo, Sócrates explicou que ele, na realidade, não esculpira a estátua:
- Quando pus meus olhos sobre o bloco de mármore, eu visualizei a fada, dentro da pedra. Tudo o que fiz foi retirar o excesso de pedra que a cobria e assim a revelei ao mundo.
O ser humano é como aquela estátua.
Por fora se vê o "excesso", o corpo, o material - que pode assumir diversos formatos: magro ou obeso, belo ou deformado, jovem ou envelhecido. Mas é preciso ter a sensibilidade de Sócrates pra distinguir a "fada" - o invisível, a essência que habita o corpo físico.
Pra que essa essência seja revelada ao mundo, ela precisa, também, ser esculpida, forjada e trabalhada.
Esse processo, talvez, levará a vida inteira, mas será necessário; pois, por meio da dor, disciplina e provações, essa "fada" interior finalmente se sobressairá à matéria bruta que a encobre.
A luz interior não pode ficar oculta; precisa resplandecer.
Texto de Huberto Rohden - adaptação de Marcos Aguiar.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UMA FILA QUE VALEU A PENA

A VERDADEIRA RIQUEZA

OS PREGOS