APENAS OUÇA

 




Uma pobre senhora, envolta em luto, vivia só desde a morte do marido em uma grande casa no meio da avenida. Geralmente passava as manhãs entretida em sua cadeira de balanço, na varanda.
Nesse período passava por ali, diariamente, o entregador de jornais - um menino de bicicleta que, mecanicamente, atirava o jornal nos degraus da varanda.
Aquele gesto, quase sempre infalivelmente no mesmo horário, marcava a passagem do garoto no local.
Então, num dia de inverno, quando se preparava para lançar o jornal, o menino viu aquela senhora, parada nos degraus, acenando para ele, chamando-o. Respeitosa e curiosamente ele foi, receando talvez que ela fosse reclamar de algo.
- Venha tomar um café, filho - disse ela - Tenho uns biscoitos deliciosos.
Enquanto ele saboreava o lanche, a senhora começou a falar.
Contou sobre o falecido esposo, sobre a vida que tiveram juntos, sobre a saudade que a oprimia. Passada uma meia hora, o garoto se levantou, agradeceu e saiu. No dia seguinte e no outro, a cena se repetiu.
O menino decidiu conversar com o pai a respeito. Achava estranha a atitude daquela senhora. Mas o pai lhe disse:
- Apenas ouça, filho. Essa senhora deve estar se sentindo solitária. Deixe-a falar e desabafar. Compartilhar com alguém sobre seu passado deve fazer bem a ela. E o alguém neste caso é você. Então é importante que você a ouça. 
Assim, nos dias, semanas e meses que se seguiram, o jovem entregador de jornais dedicava um tempinho para ouvir aquela senhora, demonstrando interesse sincero nas palavras dela.
Com a chegada da primavera, o café foi substituído pelo suco de frutas. O verão trouxe sorvete.
Ao final daquele ano, o menino mudou-se com sua família para outra cidade e ele não pôde mais se encontrar com a desolada viúva. Contudo, uma lição o acompanhou pelo resto da vida. Jamais esqueceria da importância de ouvir as pessoas. Uma lição que contribuiu também, mais tarde, para seu sucesso como esposo, pai e profissional.
Você quase nunca imagina quantos semelhantes ao teu redor anseiam por alguém que, por apenas alguns instantes, os ouçam desabafando suas queixas, dores e decepções. 
Apenas ouvir pode não resolver a situação, mas já será um alívio para aquela pessoa, acredite.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar.


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