A PIPA

 




Um homem de meia idade, cego de nascença, era guiado por um jovem, ao longo de uma trilha. O rapaz era inexperiente mas tinha olhos vivos e atentos a tudo. Afoito, alimentava a ilusão de revolucionar, inovar e modificar tudo no mundo.
Já o cego, cujo rosto estava enrugado pelos anos, contentava-se em aprender um pouco aqui e um pouco ali. Analisava, com serenidade, as experiências e acontecimentos da vida. Só desejava melhorar a si mesmo.
Caminhavam em silêncio quando o moço, surpreso, exclamou:
- Uma pipa!
- Por que essa euforia toda com uma pipa que está tão distante? - indagou o cego.
- É que toda vez que vejo uma pipa, só me vem um pensamento: liberdade! E quem de nós não valoriza a sensação de sentir-se livre?
- Liberdade? - estranhou o cego - Pois, pra mim, a pipa tem outro significado.
- Mas, como? O senhor sabe o que é uma pipa?
- Sim, filho, sei o que é uma pipa ou papagaio, como queira chamar... a imagem desse objeto só me lembra a ideia da responsabilidade e do bom senso.
- Não entendo! - retrucou o jovem, perplexo.
- Escute, rapaz: o exercício da liberdade é fundamental, mas ao mesmo tempo complexo. Como você pode perceber, a pipa tem sim liberdade, mas relativa, pois está presa a um fio. Assim como a pipa, muitas pessoas acreditam ter liberdade ilimitada, mas na verdade estão presas pelos fios invisíveis dos vícios, do apego exagerado aos bens transitórios, do orgulho e do egoísmo - fios que as impedem de alçar o voo definitivo, rumo à liberdade de fato. Assim, meu jovem, muitas vezes os olhos nos enganam. É preciso ver além, ao invés de simplesmente enxergar. Se esses fios invisíveis não são rompidos, a liberdade é uma ilusão. 
E o cego, concluindo, disse:
- Essa, meu filho, é a minha maneira de ver a liberdade.
O mancebo não precisou de mais nenhuma explicação!
Você é realmente livre ou apenas pensa que é livre? - fica a pergunta que deves responder a ti mesmo.

Autoria desconhecida - adaptação de Marcos Aguiar. 


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