A CHAMADA MISTERIOSA

 




Numa noite chuvosa, um médico retornou a seu lar, exausto e decepcionado com sua profissão. 
Não quis jantar, embora sua esposa insistisse muito; tomou apenas uma caneca de chocolate quente e foi deitar. Antes de pegar no sono, rezou para que ninguém o incomodasse naquela noite com um chamado de urgência. 
Não demorou muito e dormiu. Mas, em pouco tempo, o telefone tocou.
Tateando no escuro, o médico agarrou o aparelho e atendeu.
Era uma voz feminina. Implorava que ele fosse à casa de uma certa família para socorrer alguém em grave estado. 
- Olhe - disse o médico -, estou muito cansado; irei pela manhã. Além disso está uma tempestade terrível lá fora.
Mas a voz aflita insistiu:
- Por favor, doutor, trata-se de minha filha. É a mãe dela quem fala. Pelo amor de Deus, venha agora!
Ainda contrariado, o médico se levantou e saiu. Ao chegar no endereço citado, uma senhora de idade abriu-lhe a porta e o encaminhou a um quarto mal iluminado e com pouca mobília. 
Estava sobre o leito uma jovem semi-inconsciente. Um homem de meia idade velava a seu lado.
Ao saber que era o médico que ali estava, o mandou embora.
- Bem - falou o médico -, mas se sua filha vier a morrer, não serei o culpado por isto.
- Está bem, então a examine, já que está aqui.
Depois de um meticuloso exame, foi detectado um tumor benigno por trás da orelha direita da paciente, que estava prestes a se infiltrar na massa encefálica.
Ali mesmo, o médico efetuou uma pequena cirurgia de emergência. Em pouco tempo a garota começou a dar sinais de recuperação. 
Ao se despedir, o médico comentou com a senhora que o recebera:
- Se a senhora não tivesse insistido com o telefonema, sua filha poderia estar morta agora.
- Telefonema? - exclamou o pai, surpreso - Esta senhora é apenas nossa criada. Ela nem mesmo fala nossa língua e não temos telefone; o aparelho mais próximo fica a quilômetros daqui.
E acrescentou:
- Doutor, a minha esposa morreu, neste mesmo quarto, há cinco anos, porque eu não permiti que se chamasse um médico. 
E começou a chorar.
Somente muitos dias depois aquele médico descobriu que o telefonema fora feito por uma platonista da agência central telefônica da cidade. Ela simplesmente não soube explicar por que fizera aquela ligação. Alguma coisa a motivou a ligar, como se tivesse recebido uma inspiração. 
Há coisas que definitivamente não compreendemos, mas que acontecem!

Texto de José Ferraz - adaptação de Marcos Aguiar. 


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