SALVA POR SUA CRIANÇA

 




Uma jovem casara com um moço muito culto e de grande projeção política na China e sua união foi abençoada com dois filhos. A família viveu muito feliz, por vários anos. 
- Aquela, sim, é uma mulher de sorte - diziam dela.
No entanto, pouco tempo após o nascimento do segundo filho, o marido sofreu um colapso e morreu repentinamente.  
No final do ano seguinte, o filho mais velho morreu de escarlatina.
Oprimida pelo luto em dobro, aquela mulher perdeu a coragem de viver.
Pegou o filho que lhe restara e seguiu para a margem do rio Yangtsé. Pretendia se unir aos mortos na outra vida, junto com sua criança. 
Parada à beira do rio, ela se preparava para o fim. Foi quando o menino indagou, ingenuamente:
- Nós vamos ver o papai?
Ela levou um choque. Como uma criança de 5 anos podia saber o que ela pretendia fazer?
- O que é que você acha, querido?
- É claro que vamos ver o papai!... Mas eu não trouxe o meu carrinho pra mostrar a ele!
A mãe começara a chorar.
Deu-se conta de que ele conhecia muito bem as intenções dela. O inocente garoto compreendia que o pai não estava no mesmo mundo que eles, embora ainda não soubesse direito a diferença entre a vida e a morte.
As lágrimas levaram embora todo pensamento de morte e reavivaram nela o instinto materno e a vontade de viver.
Tomou o filho no colo, voltou para sua casa, destruiu a carta suicida que deixara sobre a mesa.
No caminho de volta, o menino rompeu o silêncio:
- E então... não vamos ver o papai?
A mãe, sorrindo, respondeu:
- O papai está muito longe. Você é pequeno demais para ir até lá. A mamãe irá ajudá-lo a crescer, para que você possa levar para ele mais coisas - e coisas muito mais valiosas que seu carrinho...
E assim aquela mãe e viúva fez tudo o que pôde para dar ao filho o melhor e torná-lo num grande homem.

Texto de Xinran (1958-), escritora chinesa - adaptação de Marcos Aguiar. 


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