FAZER O BEM DEPOIS?

 




No tempo dos czares, no grande teatro de Moscou, foi apresentada, certa vez, um célebre peça. Casa cheia, incluindo muitos membros da realeza. O enredo girava em torno de um místico que, em meio a cruéis padecimentos, sacrificou-se pela fé cristã. O conjunto da trama enlevava e comovia os corações dos espectadores. Cada um via um pouco de si e de seu íntimo, naquela encenação. Muitos choraram, assistindo aquilo.
Ao fim do espetáculo, quando todos foram saindo, foi visto um mendigo deitado sob a marquise. O coitado estremecia de frio e parecia delirar em meio à nevasca noturna.
Uma das damas da corte, ao ver o pobre homem, movida por um natural impulso de bondade, retirou o rico gasalho de peles que a agasalhava e se encaminhou a ele com a intenção de cobri-lo. Mas uma outra dama a deteve pelo braço.
- Não faça isso! De que adiantaria a esse miserável um tão rico agasalho? Amanhã você poderá enviar uma manta aquecida para ele, por meio de um empregado.
A outra pensou um pouco e respondeu:
- É. Acho que você tem razão.
E tornou a vestir o casaco. Subiu em sua luxuosa carruagem e voltou a seu palácio. Tomou seu chá quente, ao pé da deliciosa lareira, depois foi dormir confortavelmente em seu leito alcochoado com seda. 
Pela manhã, ao acordar, lembrou logo do mendigo. Chamou um dos serviçais e lhe ordenou que levasse agasalho àquele homem.
Mas, chegando ao local, o empregado deparou-se com policiais removendo o corpo do indigente, que morrera de hipotermia durante a noite.
Será preciso uma tragédia para entendermos nosso papel neste mundo e que a benevolência não pode ser adiada?

Autoria desconhecida - texto adaptado.


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